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Como funciona a mala branca?

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21/11/2010 10h24

Nesta reta final do Brasileirão você ainda vai suspeitar que muito time correu mais por causa da mala branca. Provavelmente nenhum cartola ou jogador vai confirmar, mas todos conhecem bem o roteiro.

Os dirigentes são os mentores, mas não costumam ficar na linha de frente. O primeiro passo é conversar com um jogador experiente do time e saber se ele tem amigos na equipe para a qual vai a oferta de incentivo.

Normalmente, os boleiros deixam a negociação adiantada para um representante da equipe que vai oferecer o dinheiro concluir a operação.

Na maioria das vezes, é escolhido um empresário que tenha clientes nos dois times. O mais indicado é esse representante viajar para a cidade do jogo em questão, pois o pagamento tem que ser feito o mais rápido possível. Há casos de intermediários que se hospedam no hotel do time a ser premiado.

O pagamento pode ser em dinheiro ou ser feito no dia seguinte à partida. No segundo caso, o intermediário vai ao banco com um jogador, de preferência o capitão, para fazer a transferência. Depois o atleta faz o repasse aos companheiros.

O que ninguém esclarece é de onde sai o dinheiro. Nenhum clube registra em seus balanços despesas com premiação a outros times. A maioria dos cartolas diz que o dinheiro vem de amigos apaixonados pelo time.

Além da questão se é ético ou não receber dinheiro extra para vencer, existe o problema fiscal. Ninguém paga imposto nessas movimentações, ninguém declara essas receitas no imposto de renda. O Ministério Público já recebeu denuncias de uso da mala branca para encobrir desvio do dinheiro de clube. Os cartolas teriam apresentado notas fiscais em altos valores de serviços que não foram prestados, justificando aos conselheiros, quando descoberta irregularidade, que o dinheiro saiu dos cofres para pagar mala branca. 

Essa face não esportiva da mala branca deveria ser examinada com carinho pelas autoridades competentes.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.