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Marco Aurélio Cunha: "Não era mais ouvido no São Paulo, por isso saí"

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20/01/2011 14h09

Marco Aurélio Cunha assinou nesta quarta-feira sua rescisão contratual (sem multa) com o São Paulo. Confira a entrevista com o ex-superintendente de futebol do clube, que alterna declarações escancaradas e sutilezas escondidas nas entrelinhas.

O senhor vai formalizar sua demissão hoje?

Não. O pedido informal foi feito em dezembro. Assinei a rescisão ontem. É bom deixar claro que não recebi nenhuma multa, indenização. Saio sem receber nenhum valor do São Paulo. E não existe possibilidade de eu vir a cobrar o clube no futuro. Não fiz isso há 20 anos quando fui demitido porque o grupo do Juvenal Juvêncio perdeu a eleição, não farei agora.

Quais motivos o levaram a pedir demissão?

Senti que meu grau de influência estava sendo pequeno. A minha influência diminuiu a ponto de eu não ser mais ouvido. Na rua eu sou cobrado como se eu fosse o São Paulo, tenho a cara do clube, mas lá dentro eu não tinha mais aquele poder de persuasão, minhas opiniões não eram levadas mais em conta. Então, não era justo eu continuar a ser cobrado assim.

Quais opiniões não foram levadas em conta?

São assuntos internos, não vou expor as feridas. Mas as vitórias levam a alguns abusos, fazem as pessoas saírem da realidade, eu tentava corrigir isso. Aí eu era a pessoa desagradável.

Tem a ver com as saídas do Muricy Ramalho e do Ricardo Gomes?

Eu achava que o Muricy poderia ter saído de outra forma, com uma porta aberta para ele voltar no futuro. Mas isso é difícil no futebol, não entenderam assim. Ficou claro que eu não era mais ouvido na saída do Ricardo. Argumentei que ele tinha bons números, mas resolveram mudar tudo sem planejamento, apostar na base sem nenhum cuidado. Não me consultaram, não me ouviram quando falei dos riscos.

Como conselheiro, se o Juvenal for candidato, vai votar nele?

Como amigo, gostaria que ele não fosse candidato, porque sua administração foi brilhante e ele só vai ter desgaste. Não sou jurista para saber se é legal ou não a candidatura dele. Vou ouvir as pessoas. Não posso dizer se votaria nele ou na oposição, pois não pensei no meu voto ainda.

Pode ser candidato à presidência?

Agora não.

A demissão tem a ver com a carta distribuída pelo conselheiro Edson Lapolla afirmando não ser ético um conselheiro ser remunerado como funcionário ainda mais para quem é da Comissão de Ética da Câmara Municipal, como o senhor?

Zero. Você acha que vou ligar para o que o Lapolla fala? Saí porque achava injusto ser cobrado nas ruas como se eu fosse o São Paulo sem ter poder para mudar o que eu achava errado. Se não me ouviam, eu não era mais útil, não fazia mais sentido ficar lá. Abri mão da visibilidade e de um salário que era economicamente importante.  Poderia enrolar o São Paulo, ficar lá mais uns três anos recebendo salário, depois ser demitido e pegar uma indenização. Saí e mostrei que quando sinalizei no ano passado que pediria demissão não estava fazendo ameaçazinhas, como alguns no clube disseram. Mais gente deveria fazer o que eu fiz: ir embora.

Quem?

Tá cheio de gente que vive lá no São Paulo apenas por conta do cargo, só para ter o cargo, cargo não remunerado. Deveriam sair também. Ao me recusar a continuar ganhando sem ser ouvido, mostrei que não sou um são-paulino que quer tirar proveito do clube. Outros deveriam mostrar isso também.

O senhor continuará trabalhando no futebol?

De alguma forma vou. Tenho muitos amigos que me pedem ajuda, tem o pessoal de Santa Catarina que sempre me procura. Vou continuar porque não sou como uns que estão aí, que são da iniciativa privada e caíram no futebol. Eu sempre fui do futebol.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.