Topo

Perrone

'O estatuto é capenga e precisa mudar', diz Juvenal Juvêncio

Perrone

14/02/2011 10h15

Fiz uma espécie de visita guiada pelo Morumbi na companhia do diretor de marketing do São Paulo, Adalberto Dellape Baptista. O objetivo era conhecer as obras feitas para deixar o estádio em condições de receber jogos da Copa do Mundo.

O tour terminou com uma inesperada passagem pela sala de Juvenal Juvêncio. Assim que entrei, falei algo sobre as categorias de base para puxar assunto. O presidente pegou um bloco de notas com o escudo do São Paulo e seu nome. Rabiscou: 1 – Barra Funda, 2 – Cotia, 3 – Estádio, 4 – Torcida. Enquanto rabiscava, falava sobre o aproveitamento dos pratas-da-casa no time de cima, das receitas geradas pelo Morumbi e do fato de a torcida são-paulina ser a que mais cresceu nos últimos anos.

Em seguida, o cartola concluiu: "Quem tem esses quatro pontos, fecha o ciclo vitorioso. O São Paulo fechou o ciclo e por isso está cinco anos adiantado em relação aos adversários". Tive a certeza de que a conversa caminhava para finalmente o cartola "confessar" que vai ser candidato ao terceiro mandato, apoiado em uma mudança estatutária a ser feita nesta terça pelo Conselho Deliberativo.

Juvenal disse ainda ter ouvido do ex-presidente Laudo Natel que o Morumbi só foi concluído porque ele foi presidente por sete mandatos e ficou por mais cinco na comissão de obras. "Se não ficasse não teria construído mesmo". Pensei, agora ele fala que é candidato. Não falou. Então, transformei a conversa informal numa rápida entrevista.

1- O senhor já decidiu ser candidato, certo?

Não. Não desconheço que a maioria quer que eu continue na presidência. Mas não temos pressa, todos conhecem os conselheiros, sabem quem pode se candidatar. Vamos fazer a reunião do Conselho, decidir o que o clube quer com calma. O assunto eleição só deve ser definido na segunda quinzena de março [a votação será em abril].

Quem defende sua permanência diz que só o senhor pode reconduzir o Morumbi à Copa do Mundo.

Não quero falar isso porque pode soar soberano. Mas admito que sou um cidadão que sempre batalhou por isso. Trabalho há três anos nesse projeto, conheço tudo muito bem.

Mas e o desgaste de mudar o estatuto? Um novo mandato não seria antiético? 

Disputei a última eleição e ganhei. Se meu adversário [Aurélio Miguel, que prometeu acionar hoje a Justiça] tivesse vencido, ele teria direito a dois mandatos sob as regras do estatuto atual. Mas eu só tenho direito a um mandato [o outro foi com o estatuto antigo]. Ficou uma coisa capenga, que precisa ser corrigida.

A entrevista termina. Antes que eu deixasse a sala, Juvenal me entrega uma papelada: "Toma, é uma bomba". Na verdade era uma relação de todos os presidentes do São Paulo e uma manifestação de apoio ao terceiro mandato de Juvenal assinado pelos ex-presidentes Laudo Natel e Manoel Raymundo Paes de Almeida.

O manifesto fala no tal ciclo vencedor, na importância das obras no Morumbi e conclama Juvenal a lançar sua candidatura. O tom vai ser esse. De aceitar o apelo dos conselheiros. Mesmo depois de ler o manifesto, de ouvir Juvenal e de ficar impressionado com a reforma do Morumbi, continuo avaliando que a reeleição é desnecessária. O São Paulo não precisava desse desgaste.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.