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'Carpegiani foi contratado e demitido como parte de acordo político'

Perrone

08/07/2011 11h22

Entrevistei Edson Lapolla, candidato da oposição derrotado na última eleição para a presidência do São Paulo. Veja o que um dos poucos opositores de Juvenal Juvêncio fala sobre a atual situação do clube. Enviei mensagem para o celular de Juvenal a fim de ouvi-lo sobre as críticas. Ele não havia respondido até a publicação do post.

Carpegiani

"O Juvenal só contratou o Paulo César Carpegiani por causa de um pacote político que fechou com o José Augusto Bastos Neto. O ex-presidente trabalhou com o Carpegiani nos anos 90 e o queria de volta. Fez a indicação para o Juvenal, que aceitou como parte de um pacote político para garantir uns 40 votos do Bastos Neto.

Ele só demitiu o técnico porque completou a outra parte do acordo. Nomeou os conselheiros indicados pelo Bastos Neto para os cargos que ele queria. Antes disso, não poderia demiti-lo."

Crise

"O problema é o modelo de gestão. Não temos diretores profissionais. E sou obrigado a admitir que o trabalho no CT ficou pior depois que o Marco Aurélio Cunha saiu. A diretoria assinou um contrato de patrocínio com uma empresa de GPS. Deveria aproveitar e usar um. Está perdidinha. Existe muito ciúme, muita vaidade entre os dirigentes do futebol. Isso atrapalha tudo".

Próximo técnico

"Com certeza será alguém disposto a ouvir e obedecer ao Juvenal e ao Milton Cruz [auxiliar-técnico]. É assim que funciona lá. O Juvenal centralizou tudo e confia no Milton. Com os títulos todo mundo se acomodou, ninguém reclamou. E agora nós regredimos enquanto os outros evoluíram".

Marketing jurássico

"Uma prova de que nós regredimos enquanto os outros cresceram é o nosso departamento de marketing. Pelos balanços de 2010, o São Paulo arrecadou R$ 5,6 milhões com o programa sócio-torcedor. O Internacional, por exemplo, faturou R$ 39,8 milhões".

Oposição dizimada

"O Juvenal não perde mais uma eleição lá. Precisei montar uma chapa de oposição e vi como é difícil. Ninguém quer entrar. O cara te fala: 'se eu te apoiar, meu filho não joga na seleção de futsal do clube, não joga na seleção de vôlei'. Os caras são muito vaidosos, e o Juvenal amarrou tudo muito bem.

São mais de 600 cargos [sem remuneração] que ele criou para distribuir carteirinhas. O cara quer dizer para os amigos que é diretor-adjunto, quer ter vaga na garagem. O Juvenal deu tudo isso. Muita gente que era da oposição virou baba ovo do presidente porque cansou de viajar com o time a convite dele."

Clube familiar

"O São Paulo virou um clube de família, de poucas famílias. É dos Juvêncio, dos Natel e dos Aidar. Do jeito que é nosso estatuto, ninguém tira o poder deles. Já falei que não podemos ficar com o mesmo presidente dez anos no poder. Se deixarmos, vai acontecer o mesmo que houve com Palmeiras, Corinthians e Vasco. Presidentes se eternizaram no poder e as equipes caíram para a segunda divisão. Se não nos modernizarmos, vamos continuar justificando o nosso hino: vivendo das glórias do passado."

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.