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Técnicos trocam orgulho por obediência a cartolas e agrado a atleta

Perrone

09/05/2012 14h00

Ao mesmo tempo, três técnicos de times paulistas mostram mudança radical em seu comportamento. Leão, Tite e Muricy Ramalho estão menos orgulhosos e mais dóceis.

O caso mais radical de metamorfose é o do técnico são-paulino, que não se rebelou contra o fato de a diretoria impedi-lo de escalar Paulo Miranda, retirando o jogador da concentração.

O ex-linha-dura, que no passado se gabava de peitar cartolas, jogadores e jornalistas, já engoliou outros sapos em sua nova passagem pelo Morumbi. Foi orientado por Juvenal Juvêncio, por exemplo, a parar de criticar Lucas em suas entrevistas.

Amigos de Leão, avaliam que o tempo longe dos principais clubes do país contribuiu para amansá-lo. Acreditam que, apesar de ser independente financeiramente, o treinador não está disposto a assumir o risco de ficar desempregado ou trabalhando em clubes pequenos só para mostrar que ainda é valente.

Nenhum dos outros técnicos sofreu interferência como Leão, mas o caso tricolor não foi o único de pressão da cartolagem em cima de uma futura escalação. No Corinthians, Tite tirou Júlio César do time depois de uma conversa com Mário Gobbi.

Entre outras coisas, falaram sobre o jogo com a Ponte Preta, em que JC falhou feio. O teor exato do papo ficou entre os dois. Não é possível afirmar que houve interferência direta. Mas também não é segredo que o presidente corintiano vinha sendo pressionado para exigir de Tite as saídas de Júlio Cesar e Liedson, que também sambou.

Tite nunca foi de falar grosso diante das câmeras de TV como Leão, porém, tem em seu currículo o fato de praticamente ter expulsado do vestiário Kia Joorabchian, então todo-poderoso da parceria Corinthians/MSI.

Ficou furioso com o chefe ao ser cobrado por não colocar Tevez para bater um pênalti. Acabou perdendo o emprego, mas nunca demonstrou arrependimento. Hoje, porém, parece ter mais paciência para ouvir dirigentes.

Na Vila Belmiro, a transformação não passa pela questão da autoridade do "professor". Muricy Ramalho está diferente em outro aspecto. Antigamente, não pensava duas vezes antes de dizer que seu trabalho carecia de maior reconhecimento por parte de jornalistas, cartolas e torcedores.

Agora, na contramão de quem valorizava seus próprios méritos, não perde uma oportunidade de fazer publicamente um agrado em Neymar. Seus diálogos em público com o atacante são melados de tanto elogios. O velho e ranzinza Muricy, certamente, ficaria calado, o que não mudaria seu julgamento sobre o jogador.

Nesse cenário, Felipão parece ser o último dos moicanos entre os treinadores dos grandes paulistas. O jejum de títulos não tirou sua pose. No ano passado, por mais de uma vez, ameaçou pedir demissão no Palmeiras por causa de críticas da cartolagem.

Scolari também ganhou diversos duelos com dirigentes, conseguiu os reforços que pediu, acaba de dispensar boa parte deles e já começa a receber substitutos. O esperneio dos que são contra seu poder não faz nem cócegas no sargentão, com temperamento cada vez mais diferente de seus três principais adversários em São Paulo.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.