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Auditoria aponta irregularidades em pagamento de R$ 11,7 milhões em comissões e fica engavetada no Palmeiras

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21/09/2012 10h20

 Auditoria feita pela Torga Consultoria revela que o Palmeiras se comprometeu a pagar R$ 11,7 milhões em comissões para empresários em 29 operações com jogadores e na contratação de Felipão. Média de R$ 390 mil por negócio.

O clube remunerou agente até para fazer a troca entre Leo e Leandro Amaro com o Cruzeiro. Só na operação com os cruzeirenses, a comissão para três empresas de agentes foi de R$ 850 mil. Dessa quantia, R$ 400 mil foram prometidos ao empresário João Francisco Machado, o mais acionado pela diretoria anterior do Palmeiras.

O relatório aponta diversas falhas e considera que todas as negociações feriram o estatuto do clube. Isso porque foram feitas sem ter ao mesmo tempo as assinaturas do vice financeiro e do presidente do clube.

O trabalho foi entregue ao presidente Arnaldo Tirone em 13 de dezembro do ano passado. Apesar de seu conteúdo exigir investigações mais profundas, ficou praticamente parado no clube.

"A gente passou o primeiro semestre preocupado com a Copa do Brasil. Agora, depois que o Paulo Serdan (membro da Mancha Alviverde) falou da auditoria na Jovem Pan, vamos nos concentrar nela. Mas é importante dizer que o Conselho Deliberativo e o COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) receberam o relatório há pelo menos três meses", afirmou Piraci de Oliveira, diretor jurídico do Palmeiras.

Segundo ele, agora será pedida a abertura de uma sindicância no Conselho Deliberativo.

A auditoria foi encomendada porque conselheiros reclamavam dos gastos com empresários durante a administração de Luiz Gonzaga Belluzzo. A maioria dos negócios analisados foi feita na gestão anterior, mas também há negociações comandadas pela atual diretoria. A auditoria também analisou contratos de patrocínio e outras operações.

Chama atenção a quantidade de agentes em cada operação. Na contratação de Valdivia, quatro empresas dividiram R$ 3,5 milhões, incluindo a Valdivia Sports.

 Outra negociação com comissão superior a R$ 1 milhão foi a de Kléber. Seu empresário, Pepe Dioguardi, teria direito a R$ 1,6 milhão. Tinha recebido R$ 328,1 mil quando o atacante se transferiu para o Grêmio. Não recebeu o restante. Segundo o agente, partiu dele a decisão de que o pagamento não deveria ser completado.

Entre os casos mal explicados estão pagamentos de parcelas referentes a comissões que acabaram sendo pagas como direito de imagem. Aconteceu com Obina e Marquinhos.

Na contratação de Vítor foram usados três intermediários. E João Francisco Machado, que deveria receber R$ 70 mil, ficou com R$ 80 mil. Segundo a auditoria, uma das parcelas foi paga duas vezes.

"Quanto ao pagamento duplicado a João Francisco, a explicação deve ser solicitada ao departamento financeiro da época. O departamento de futebol não tinha controle sobre os pagamentos", disse ao blog, por e-mail, Gilberto Cipullo, responsável pelo futebol alviverde na administração Belluzzo.

"Acabei de ser assaltado, levaram meu carro. Não posso falar agora", afirmou Francisco Buzico, que cuidava do setor financeiro.

Os auditores também questionam casos em que o acordo pela comissão foi assinado meses depois do contrato de trabalho. É o caso de R$ 62.5000 prometidos a João Francisco Machado três meses depois da contratação de Ewerthon.

Como já escrevi aqui, o Palmeiras também pagou comissão (R$ 330 mil) para Deola, formado no clube, renovar contrato e para rescindir o compromissos de diversos jogadores. Há ainda um caso curioso na contratação de Armero. Em documento, o clube afirma que não tinha dinheiro para pagar as luvas do jogador. A empresa Luck Sports fez o pagamento e foi reembolsada.

 

Outro lado

Para membros da antiga administração, o relatório ficou parado no clube a espera de um momento político ideal. E nada melhor do que dar visibilidade a ele em tempos de crise e com a eleição se aproximando.

Cipullo nega irregularidades

"Obviamente, a divulgação, somente agora, de um material que já está em mãos da diretoria desde dezembro de 2011 tem claro objetivo político, qual seja, o de desviar a atenção para fatos passados para ocultar os gravíssimos problemas hoje existentes, e gerados muito depois de nossa saída", respondeu Cipullo ao ser questionado sobre o "engavetamento."

 "Quanto ao desrespeito ao estatuto, quero lembrar que os documentos e as contas das nossas gestões foram examinadas por outras auditorias, e nenhuma delas levantou qualquer irregularidade. Aliás, ainda que alguma irregularidade formal tivesse havido, teria ela sido sanda pela aprovação das contas. Entendo, entretanto, que nenhuma irregularidade existiu. Sempre agi por procuração do presidente, outorgada com base no ártico 115, inciso XXI, do estatuto social", afirmou o ex-dirigente.

Para Cipullo, as queixas sobre os valores pagos a agentes "decorre pelo total desconhecimento sobre o funcionamento do mercado futebolístico". Segundo ele, "os valores são altos porque houve uma expressiva valorização nos ganhos dos atletas".

Sobre várias negociações serem com João Francisco Machado, Cipullo afirma que foram mais de 130 operações e "apenas oito" com ele. E nenhum com valor expressivo, na opinião do ex-dirigente.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.