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Léo diz que tem gente que ganha muito, mas não joga no Santos

Perrone

13/11/2013 06h00

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Entrevista com Léo, veterano do Santos que não terá seu contrato renovado pela diretoria ao final do ano.

Como soube que o Santos não renovaria seu contrato?

Em setembro fui procurar a diretoria. Pedi para meu advogado perguntar para a diretoria qual a intenção. A resposta foi que não havia interesse.

Você ficou magoado por não terem nem aberto uma negociação?

Eles têm uma nova filosofia, respeito, respeito e respeito. Mas não concordo. Você dizer para um jogador durante a competição que não tem mais interesse nele, não está certo. Por mais profissional que eu seja e que sempre fui, como falam isso pra um atleta em setembro, se o campeonato vai até dezembro? Daí precisa do cara, e aí, como fica?

Acha que você não foi tratado como deveria ser?

Acho que não é o modo de tratar um jogador tão identificado com o clube como eu. Participei de tudo aqui, encarei a época dos 18 anos sem títulos, fiquei seis meses com salário atrasado. Corri de torcida na rua, fiz parte da geração do Robinho, fui embora. Quando voltei ao Brasil tinha tudo certo com o Fluminense, mas abri mão de dinheiro para jogar de novo pelo Santos. Aí renovei contrato baixando meu salário, baixei de novo…  Sabe onde renovei meu último contrato?

Onde?

No CT do Santos. Com camisa de treino, só o Ney Pandolfo [gerente de futebol na ocasião] estava lá, mais ninguém. O Ney disse: 'tenho a honra de renovar  seu contrato'. Respondi: a honra é minha, porque se não fosse você acho que não teria ninguém aqui comigo. Isso porque tenho só uns 30 jogos pelo Santos. E não ganhei quase nenhum título aqui. Aquele dia eu nunca vou esquecer.

Quantos jogos você tem pelo Santos?

Uns 458 jogos.

O que mais te magoa?

É essa história de falarem que não renovam comigo por causa da relação entre custo e benefício. Não ouvi isso da diretoria, li em jornais. Não sei se é verdade, mas reduzi tanto meu salário que se reduzisse mais jogaria de graça. Se eu ganhasse 350 mil por mês poderiam falar alguma coisa. Mas ganho bem longe disso. Agora tem gente que ganhou muito mais do que eu aqui e praticamente não jogou.

Qual a sua maior tristeza nesse tempo todo de Santos?

 A maior tristeza está sendo agora, não é um título perdido. Nunca me rotulei como ídolo, mas hoje sei que eu sou. Seu passar pra você o que sinto hoje, é uma tristeza profunda pela maneira como foi conduzida a minha saída do clube. Não sou qualquer um na história do clube. Sempre pensei no Santos. Saí da lateral para ajudar o clube, não estava rendendo e para colocarem um jogador por quem pagaram não sei quantos milhões. Eu abri mão de jogar na minha posição, não é uma decisão fácil. Contra a Portuguesa, o treinador queria me tirar porque arrebentei o menisco. Mas eu quis continuar. Isso não é atitude de um cara que se preocupa com o clube? Difícil aceitar algumas coisas, mas eu respeito as decisões. Não tem polêmica, respeito a vontade deles e já sei o que vou fazer no futuro.

Qual a sua decisão sobre o futuro?

Vou estudar gestão esportiva, e ver o que acontece. Ano que vem tem eleição no Santos.

Você acha que o fato de no passado falar de política do clube, de dizer que queria atuar no Santos fora de campo pesou na decisão da diretoria?

Certamente pesou.

Conselheiros do clube devem estar te procurando por causa da política.

Você bateu no ponto certo. Você não tem noção de como estão me procurando. Sou um arquivo vivo do Santos, e isso ninguém tira de mim. Trabalhei com vários presidentes.

 Já se posicionou politicamente para esses conselheiros ou ainda tem esperança de renovar contrato?

Estou pensativo. Gostaria de ter esperanças de renovar, porque sei que ainda posso ajudar o time, eu agrego muito. Se for ver, nas partidas em que entrei no meio, joguei muito bem. Quero ainda ter uma conversa olho no olho com o Odílio Rodrigues [presidente em exercício]. Tenho muita gratidão por ele, e não sei se a decisão foi dele ou do grupo gestor. O futuro a Deus pertence, mas hoje entro triste para treinar, é difícil encontrar motivação, mas sou profissional. Ainda bem que tenho o Zinho (gerente) para me ajudar, não sei como seria sem ele.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.