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Para ex-presidente, Santos não foi enganado por Neymar. Erro foi da direção

Perrone

16/02/2014 10h39

Em entrevista ao blog, Marcelo Teixeira, ex-presidente do Santos, reclamou de ser citado por seus sucessor, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, em momentos críticos. Neste sábado, o blog publicou entrevista na qual Laor, ao comentar sobre conselheiros que querem seu impeachment, disse que Teixeira é quem merecia ter enfrentado um processo de afastamento.

Além de responder a Laor, Teixeira também falou sobre a polêmica negociação de Neymar. Ao contrário de boa parte da diretoria do clube, ele entende que o Santos não foi enganado pelo jogador e seu pai. O ex-dirigente crítica a autorização dada por Laor para o pai do jogador conversar com outros clubes antes do fim do contrato e pede uma apuração no Conselho Deliberativo. Leia abaixo.

 

Qual sua opinião, sobre Luis Alvaro dizer que o senhor merece impeachment por ter cedido direitos de atletas jovens para a DIS por um preço ridículo, segundo ele?

Mais uma vez o desvio das atenções que o presidente licenciado está querendo  dar. Permaneci dez anos no clube e não tive nenhum problema envolvendo as comissões do Conselho Deliberativo. Nunca tive, o que é o principal, que é a voz das arquibancadas, meu nome xingado ou o meu impeachment pedido. E ao contrário até, acho que o Santos obteve parte do seu sucesso nas ações que nós fizemos para a permanência de atletas como Neymar,Paulo Henrique Ganso, toda aquela safra de atletas que nós formamos e deixamos sem nenhum tipo de problema para a atual administração.

E sobre a crítica de a venda para a DIS de parte dos direitos de Neymar, Ganso, entre outros, ter sido por um preço irrisório?

Primeiro não foi por um preço irrisório. Depois, o Santos negociou parte dos seus percentuais, nunca acima de 20%. Grande parte dos seis atletas que foram vendidos ainda não foram concretizadas as suas revelações para o futebol brasileiro.  Então foi um investimento de risco.

Qual sua opinião sobre a venda do Neymar?

Os assuntos não conseguiam ser bem esclarecidos, como ainda não são. Existem ainda situações muito obscuras e complicadas para serem entendidas. Em primeiro lugar, esse tipo de gestão, com comitê gestor foi um fracasso. Sempre as decisões são lentas. Muitas vezes quando o Santos vai ao mercado paga mais caro porque demora. O modelo ideal é o presidencialista. No caso do Comitê de Gestão do Santos, as pessoas se confundiam, eram conselheiros, eram associados, eram investidores e faziam parte das decisões diretas do clube. Isso é prejudicial no sentido da preservação dos interesses do clube. Com referência ao Neymar, a partir do momento em que o Santos entrega uma carta em 2011 autorizando o atleta e seu pai a negociar, ali praticamente o Santos desvalorizou seu patrimônio. Algumas ações foram tomadas, como antecipação do contrato que eu tinha deixado originalmente até 2015. Não havia razão para antecipar o fim do contrato para 2014. Então você deu grandes direitos ao Neymar, cedeu quase que a totalidade dos direitos de imagem ao atleta, foram oferecidas várias vantagens financeiras para o atleta permanecer no Brasil. Agora, não há razão para você entregar uma carta autorizando seu jogador a negociar e antecipar o fim do contrato. Ali acho que foi o maior dos erros administrativos dessa diretoria. O Santos dizia que não tinha interesse em negociar e quem quisesse teria que pagar a multa. A partir do momento em que você exterioriza isso ao público, mas entrega uma carta dessas ao atleta, você praticamente entrega o atleta ao mercado. Não há nenhum tipo de dolo ao clube no que pai e filho fizeram. Eles defenderam os seus direitos. O Santos é que não soube preservar corretamente as suas condições.

Essa carta com autorização para o pai do Neymar conversar com outros clubes foi lesiva ao Santos?

Ela interferiu  diretamente naquilo que o Santos poderia alcançar numa negociação envolvendo o Neymar. Se o Santos recebeu tão pouco, uma quantia até irrisória perto de um dos maiores atletas do futebol mundial, foi por causa de uma série de erros  que levaram o clube a ter esse grave prejuízo.

O senhor, então, acha que Neymar e seu pai não enganaram o Santos na operação em que a empresa da família recebeu 40 milhões de euros?

Nenhum dos dois enganou o Santos. Agora sei que não, diante dos fatos,  porque o pai do Neymar, de forma corajosa, veio a público e expôs todas as suas condições. O que o Santos desmentia, dizendo que não tinha dado autorização, o atleta veio e mostrou a carta. Então, a partir desse instante o Santos perde todos os seus direitos. Você vê que o clube na Justiça brasileira não consegue sucesso. Quer ver documento. Não é do seu direito mais vasculhar documentos que pertencem exclusivamente à carreira do jogador. Devem ser analisados, isso sim, pelo Conselho Deliberativo, quais os atos que os dirigentes fizeram e que devem responder. Não ficar vasculhando contratos do atleta com o Barcelona, quando você não vai ter nenhum ganho no sentido de obter recursos inerentes a esse contrato. Qualquer leigo vai responder que o Santos não vai conseguir nada na Justiça brasileira ou internacional em termos de obter os contratos entre Barcelona e Neymar. Como  o Santos vai ter algum direito se aceitou a transferência pelo  valor que estava lá, se reconhecia que o atleta estava livre diante dos contratos que assinou?

O que o senhor pede é uma investigação no conselho.

A palavra investigação é um pouco forte. Acho que o Conselho deve analisar todos os procedimentos da diretoria e do Comitê de Gestão. Hoje é fácil o presidente licenciado (Laor) colocar a culpa no diretor jurídico.

Ele disse que quem escreveu a carta foi Luciano Moita (hoje ex-membro do Comitê de Gestão), como advogado do clube.

É um amadorismo total. Esse senhor escreve uma carta, coloca para o presidente, ele vai lá, sem ler e assina sem saber o que está assinando? Por isso que o conselho do Santos precisa analisar. O resto é continuar gastando recursos financeiros contratando escritórios internacionais quando você nitidamente nota que não vai obter sucesso nessa aventura. Acho que o que precisa ser feito é o conselho analisar essa e outras negociações. E, se no final dessa análise, chegar à conclusão de que essas atitudes foram prejudiciais em relação ao que o Santos poderia receber e não recebeu, acho que essas pessoas têm que responder.

Quando negociou com o pai do Neymar, ele era muito exigente?

Não, nem o pai, nem o filho. Essa geração do Santos tem muita identificação com o clube e o com o torcedor. É uma pena o que está acontecendo, o Santos não merece viver esse momento. Esses ídolos que deram tantas alegrias à torcida, eles não mereciam esse tipo de situação de ficarmos questionando a imagem e a moral deles. O Elano saiu dessa forma, o Robinho naquela negociação de vem ou não vem ficou taxado como mercenário, o Paulo Henrique Ganso, idem. Agora o Neymar. No meu entendimento, alguma coisa está errada. Será que esses atletas realmente agiram de uma forma como a diretoria quer mostrar ou é a diretoria que está falhando e quer dar as suas desculpas colocando a responsabilidade nesses atletas. Isso é muito triste.

O Santos já pagou tudo o que deve para o senhor?

Não. Para você ter uma ideia, a pedido do Laor e da diretoria, eles me fizeram abater mais de 50% do valor da dívida, fizeram com que eu não cobrasse  juros no início dos pagamentos, se não me engano dois ou três anos. E esses pagamentos foram alongados até 2017. Essa é a situação hoje.

O senhor assinaria um pedido de impeachment do Luis Alvaro?

Não. Antes de se chegar a isso os fatos precisam ser analisados pelo conselho. Fazer sensacionalismo, a gente sabe que a qualquer momento existem pessoas dentro desse espírito. Como existe o próprio presidente licenciado, e estou surpreso com essa atitude dele.  Se você está perguntando o que ele acha sobre impeachment e ele relaciona mais uma vez o meu nome… O que tem a ver o meu nome? Eu já saí faz quatro anos do Santos. De novo ele está falando o meu nome? Em todos momentos críticos da gestão dele ele fala do meu nome. Chega de falar do meu nome, ele tem que assumir as posturas, as ações dele. Toda hora é a mesma coisa, fala de impeachment, ele fala do Marcelo Teixeira. Fala de dívida, em vez de responder das dívidas dele, fala do Marcelo Teixeira. Então, toda culpa continua sendo do Marcelo Teixeira. Incrível, isso.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.