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Arena corintiana tem 'tiroteio' entre clube, Fifa e governantes

Perrone

20/03/2014 06h00

Em público, a maioria dos envolvidos evita críticas e demonstrações de irritação. Nos bastidores, porém, a obra do estádio de abertura da Copa provoca intenso 'tiroteio'. Dirigentes corintianos e integrantes do estafe do clube no projeto atacam ferozmente Fifa, Prefeitura e Governo de São Paulo.

Por sua vez, membros da cúpula da Fifa  estão descontentes com o clube, também detonado por autoridades de São Paulo envolvidas com a Copa do Mundo. A discórdia é causada pelos atrasos e impasses que envolvem a entrega da arena do Corinthians no Mundial.

A maior parte dos disparos parte dos corintianos. Eles reclamam que a Fifa fez muitas alterações no contrato original sobre os estádios do Mundial, aumentando as exigências e custos para os donos das arenas.

A principal bronca é em relação a bancar as áreas de hospitalidade, que no entender dos representantes do clube deveriam ser custeadas pela Fifa ou por seus parceiros comerciais. Em entrevista ao blog, publicada nesta quarta, Luís Paulo Rosenberg, vice-presidente do Corinthians, disse considerar "um absurdo o Corinthians pagar pela festa dos patrocinadores da Fifa". As áreas de hospitalidade fazem parte das estruturas complementares que o clube se comprometeu contratualmente a pagar, mas das quais gostaria de se livrar.

Gente do clube também afirma longe dos microfones que a Fifa quer  uma receita liquida com a venda de ingressos da Copa, repassando as despesas para donos de estádios.  No entanto, recentemente, Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, disse ao site da entidade que o custo do Mundial para a federação internacional é de US$ 1,3 bilhão.

Outra queixa dos corintianos é de que a Fifa não teria respeitado as características do estádio do clube, provocando mais gastos e alguns atrasos com alterações no projeto inicial a fim de deixar as áreas internas do local no estilo idealizado por ela para todos os palcos do Mundial.

Mas de Itaquera também partem ataques na direção do Governo do Estado e da Prefeitura por ajuda na cobertura dos gastos com as instalações complementares. Em conversas reservadas, um dos membros do estafe corintiano no projeto reclama que o Governo do Estado "só" topou arcar com despesas das obras viárias que aconteceriam mesmo sem o Mundial. De acordo com o site do Comitê Paulista da Copa, o Governo do Estado vai investir R$ 397,9 milhões nessas obras, ficando R$ 150,6 milhões para a prefeitura.

Mas ao mesmo tempo em que bate nos entes públicos, o Corinthians também apanha deles. Uma das críticas feitas nos bastidores é de que o clube teria gerenciado mal a obra, minimizando problemas que agora acarretam atrasos, como na aquisição e instalação dos telões internos, estrutura para telefonia celular e em obras de acabamento. Outra alfinetada é em relação ao clube usar muitos materiais importados para aproveitar isenções fiscais proporcionadas pela Copa, mas atrasando o recebimento desse material por problemas burocráticos. E que, apesar de se beneficiar da lei da Copa para ter um estádio mais luxuoso e moderno em relação a seus rivais, o Corinthians age como se não tivesse a ver com o evento quando o assunto é colocar a mão no bolso para cuidar das instalações complementares.

O estafe corintiano nega que as importações atrasem o trabalho, mas confirma que é grande a probabilidade de o estádio ser entregue para a Fifa, em 15 de abril, sem algumas obras de acabamento concluídas.

Indagado pelo blog sobre o impasse em relação ao pagamento das estruturas complementares, o COL (Comitê Organizador da Local da Copa) enviou nota em tom conciliador, por meio de seu departamento de comunicação. "Acompanhamos o processo das instalações complementares em São Paulo desde o início e testemunhamos o empenho de todas as entidades envolvidas – o Sport Club Corinthians Paulista, juntamente com a Prefeitura e o Estado – para avançar a questão. Em Curitiba por exemplo, o processo licitatório correspondente ocorreu no último dia 17. De maneira similar, em Porto Alegre a resolução já foi equacionada, porém ainda depende de aprovação na Assembleia Estadual do Rio Grande do Sul", diz o comunicado.

Apesar de o COl falar no empenho de todas entidades envolvidas, Prefeitura e Governo do Estado dão o caso por encerrado. Afirmam que legalmente não poderiam colocar dinheiro na operação.

Se publicamente a Fifa mostra mais paciência do que teve com o estádio de Curitiba, que recebeu críticas abertamente, internamente a cúpula da entidade demonstra grande insatisfação com os atrasos da arena corintiana.

A prova de fogo para a paciência do primeiro escalão da federação internacional seria na próxima segunda, quando Valcke participaria de uma vistoria no estádio paulistano . Nesta quinta, porém, as próximas visitas às sedes foram adiadas para o final de abril, ainda sem um dia definido. Isso porque na próxima semana o cartola da Fifa fará uma série de reuniões no Rio de Janeiro com os envolvidos na preparação para o Mundial. E, ao final dos encontros, no dia 27, haverá uma entrevista coletiva. Nela, o estádio alvinegro correrá o risco de sofrer críticas em público.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.