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Diretor do Corinthians condena ação de conselheiro como agente: 'província'

Perrone

06/02/2015 12h00

Entrevista com Ronaldo Ximenes, diretor de futebol do Corinthians e que deixa o cargo após a eleição deste sábado.

Qual o seu maior acerto como diretor de futebol?

É difícil se avaliar, ainda mais difícil exteriorizar essa avaliação. Mas acho que o principal acerto foi quando resolvemos fazer a renovação de um time que tinha muitos títulos, era recheado de bons jogadores, mas que estava em decadência. Muitos ainda não tinham descido do carro do Corpo de Bombeiros. Foi um grande desafio, mas deu certo. Terminamos o Brasileiro de 2014 em quarto lugar e a um ponto do vice-campeão [São Paulo].

E qual foi o seu maior erro?

Deixo pra você avaliar. Algumas pessoas me criticam por ter emprestado o Pato ao São Paulo, mas foi um bom negócio porque ficamos com 50% dos direitos econômicos do Jadson. Talvez o erro tenha sido a contratação do Pato. Eu não era diretor de futebol, mas estava na diretoria [era o secretario geral].

Sua carta de despedida no site oficial do Corinthians diz que poucos que passam pelo departamento de futebol podem falar com tranquilidade que serviram ao clube e não se serviram dele. Por quê?

Porque todas as negociações que fizemos foram com lisura e transparência, tudo de forma honesta.

Tem muito dirigente que se serve do Corinthians? Conhece mais alguém que passou pela direção de futebol e não se serviu do clube?

Não vou falar dos outros. As pessoas sabem quem é do bem e quem é dom mal no clube.

Em algumas entrevistas, Mário Gobbi disse que o fogo amigo no clube atrapalhava a administração numa referência a divergências dentro do grupo situacionista. O fogo amigo atrapalhou o futebol do Corinthians?

O fogo amigo atrapalha de manhã, à tarde e à noite. Atrapalha muito.

Mas quem dispara esse fogo?

Prefiro não dizer.

É correta a impressão de que a pressão de empresários sobre a diretoria, seja para escalar, vender ou comprar jogadores é muito grande no Corinthians?

Isso não acontece só no Corinthians, acho que acontece em todos os clubes. A raiz desse problema está na Lei Pelé. Ela libertou os jogadores dos clubes, mas os prendeu aos empresários.

O fato de o clube pegar dinheiro emprestado com alguns empresários [como Carlos Leite e Fernando Garcia, que é conselheiro corintiano] não dá mais liberdade a eles para fazer exigências?

Não aconteceu comigo, mas pode acontecer. Pode criar liberdade para o empresário oferecer um jogador que você não acha tão bom. Por isso é preciso respeitar o orçamento, o estatuto precisa mudar para que sejam criados mecanismos que façam com que o orçamento seja seguido à risca. Você não pode gastar mais do que arrecada.

E o que acha de um conselheiro [como Fernando Garcia, que tem parte dos direitos de Malcom e Petros, entre outros] ter fatias de jogadores do clube?

Acho que o estatuto precisa ser respeitado. E o estatuto veta relações comerciais de conselheiros com o Corinthians.

O estatuto precisa de mais mudanças?

O clube precisa dar um novo passo em direção à sua grandeza. O Corinthians é muito grande fora, mas internamente às vezes parece uma província. O estatuto precisa mudar para garantir um sistema mais democrático. O chapão [sistema pelo qual 200 conselheiros são eleitos na chapa do candidato à presidência vencedor e praticamente garante maioria no Conselho] tem que acabar porque é ruim governar sem oposição. Também é preciso discutir se o Fiel Torcedor [sócio-torcedor] deve passar a ter direito a voto.

O time está pronto ou ainda precisa de reforços? Dá para segurar esse elenco até o final do ano, apesar da falta de dinheiro?

Dá pra manter esse time até o fim do ano porque a entrada de receitas ainda é grande. O elenco é forte e está praticamente pronto, talvez precise de mais uma ou duas peças.

 

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.