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Corinthians alega que tenta vender Ralf para pagar dívida há mais de 2 anos

Perrone

05/03/2015 08h46

 

Na última terça, a empresa dos agentes de Ralf pediu na Justiça um prazo de 30 dias para tentar uma solução amigável e encerrar a ação em que cobra uma dívida do Corinthians.

Mas, até chegar a esse ponto, a troca de chumbo foi pesada. Documentos do processo mostram, além do alegado calote, acusações de pressão e de tentativa de ludibriar a justiça. Também revelam que desde a conquista do Mundial de 2012 o Corinthians tenta vender Ralf para pagar a dívida. O jogador, um dos ídolos da torcida, só segue no time porque não apareceu comprador, de acordo com o que diz o departamento jurídico alvinegro no processo.

A GP Sports Management Consultoria Esportiva, cobra do clube, em valores já atualizados, R$ 2.797.813,42. A quantia se refere à parte que não teria sido paga da venda para o alvinegro de 32,50% dos direitos econômicos do atleta. Alison Garcia Costa e André Vieira Costa são os sócios da empresa, que negociou sua parte por 1.925.000 euros em 13 parcelas, mas alega não ter recebido seis prestações de 140 mil euros.

No mês passado, o clube se defendeu na Justiça deixando claro que se dependesse de seu desejo já teria vendido Ralf e quitado o débito.

"Circunstâncias completamente alheias à vontade do Corinthians, principalmente por causa da inequívoca modificação das condições negociais do mercado de futebol, impediram e estão impedido o clube requerido de negociar o jogador Ralf e efetuar o pagamento aqui cobrado pela autora".

O Corinthians também alega que foi forçado a comprar a fatia que a empresa detinha dos direitos de Ralf sob pena de "o mesmo ser negociado pela autora", desfalcando o time na disputa do Mundial. O argumento ignora o fato de que quem tem o poder de assinar transferências sempre é a associação esportiva. "A requerente (empresa) na inicial apresenta a proposta de negociação do jogador Ralf com o time italiano da Fiorentina, mas não diz que exerceu enorme pressão junto aos dirigentes do Corinthians para a liberação do atleta e concretização da sua transferência internacional", declara a defesa.

No mesmo documento, o clube alega que foi uma infelicidade não vender Ralf depois do triunfo no Mundial. "Concretizada a aquisição dos direitos econômicos do jogador e após a conquista alcançada, o Corinthians infelizmente não recebeu proposta para negociar e transferir o jogador, o que era de se esperar e viria a acontecer, com a natural valorização decorrente do título de campeão mundial, fato este que não ocorreu, influindo decisivamente no negócio realizado com a autora".

A tese corintiana é de que o combinado era negociar Ralf passada a competição no Japão e que, como houve uma retração no mercado, não apareceram propostas para o volante. Assim, não foi possível arrecadar o dinheiro para quitar o débito com a empresa. Apesar de não existir cláusula contratual que condicione o pagamento à venda de Ralf, o Corinthians alega que "no mundo do futebol" os negócios são feitos na base da confiança. E que o Corinthians demonstrou boa-fé ao pagar cerca de 1 milhão de euros referentes à dívida com a empresa. Assim, o clube pede que a Justiça julgue a ação de cobrança improcedente.

A  GP Sports respondeu no último dia 18 que o Corinthians usou argumentos inconsistentes para tentar ludibriar a Justiça. E sustentou que não há documento que vincule o pagamento da dívida à venda de Ralf para outro clube.

Na sequência, as duas partes foram questionadas se teriam interesse numa audiência de conciliação. O Corinthians respondeu que sim. A empresa pediu um prazo de 30 dias para a tentativa de uma "composição amigável", e aguarda a resposta.

O entendimento entre as duas partes pode influenciar na permanência de Ralf no clube no ano que vem. Seu contrato termina em dezembro. É mais difícil para qualquer jogador renovar contrato com o clube que briga com seus representantes.

Veja abaixo trechos de documentos que estão no processo.

 

Pelo que diz a defesa, o Corinthians ainda tenta vender Ralf para pagar dívida

Pelo que diz a defesa, o Corinthians ainda tenta vender Ralf para pagar dívida

A defesa corintiana explica que não pagou dívida porque não vendeu Ralf

A defesa corintiana diz que infelizmente o clube não vendeu Ralf

 

 

O Corinthians sustenta que negócios no futebol são na base da confiança

O Corinthians sustenta que negócios no futebol são na base da confiança

Reprodução

O Corinthians pede que o juiz julgue a cobrança improcedente

Reprodução

Os agentes de Ralf contestam argumentos do Corinthians

Uma nova tentativa de acordo deve acontecer

Uma nova tentativa de acordo deve acontecer

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.