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Cartola fatura com uma propina mais do que Neymar em quatro meses

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06/06/2015 06h00

Os valores movimentados pelo esquema de corrupção que desmoraliza o futebol mundial são impactantes até se comparados aos salários dos maiores astros da modalidade.

A história de J.Hawilla, o brasileiro que fez fortuna comprando e revendendo direitos transmissão de campeonatos, é o melhor ponto de partida para a comparação entre o faturamento de grandes jogadores e as cifras desse escândalo, chamado a partir de agora pelo blog de "propinobol".

Réu confesso, o empresário fez um acordo para pagar US$ 151 milhões à Justiça americana por conta das ilegalidades cometidas no país, onde tem uma de suas empresas. Em euros são 135,9 milhões. Sabe quanto Messi, o futebolista mais bem pago do mundo, precisa trabalhar para ganhar essa quantia? Mais de dois anos. De acordo com a revista "France Football", o argentino faturou 65 milhões de euros em 2014, entre salários, bonificações e acordos publicitários.

Só numa negociação admitida por Hawilla aos investigadores americanos rolou propina de US$ 15 milhões. O dinheiro era parte da comissão que ele recebeu para firmar acordo entre uma empresa de material esportivo americana e a CBF. As descrições e datas registradas no relatório das investigações dão a entender que a patrocinadora era a Nike. O recebedor do dinheiro é identificado como graúdo cartola da Fifa, Conmebol e CBF, credenciais que na época batiam com as de Ricardo Teixeira.

Para abocanhar a mesma quantia embolsada pelo tal dirigente (13,5 milhões em euros), Neymar teve que trabalhar quase quatro meses e meio em 2014. Segundo a mesma revista francesa, o brasileiro, uma das estrelas do Barcelona na final da Champions League, contra a Juventus, neste sábado, faturou 36,5 milhões de euros no ano passado. Cerca de 3 milhões de euros por mês.

A remuneração anual de Neymar é apenas 500 mil euros superior ao montante que a Datisa, empresa acusada de envolvimento no "probinobol", aceitou pagar em propinas para cartolas da Conmebol. O suborno foi pelos direitos de transmissão de quatro edições da Copa América, segundo as investigações.

Você provavelmente nunca tinha ouvido falar em Datisa antes do escândalo. Talvez também não saiba direito quem é Jack Warner. Ele nunca foi jogador de futebol, mas em só uma negociata apontada pela Justiça americana teria embolsado o dobro do que o argentino Tevez ganha por ano.

Ex-vice da Fifa, Warner é acusado de receber suborno de US$ 10 milhões (9 milhões de euros) da África do Sul durante a campanha do país para sediar a Copa de 2010. De acordo com o jornal italiano "La Gazetta dello Sport", Tevez, também finalista da Champions só que pela Juve, recebe 4,5 milhões de euros anuais. Os sul-africanos negam a corrupção.

Direto das Eliminatórias da Copa de 2010 saiu outro esqueleto do armário da Fifa. A entidade teria dado 5,6 milhões de euros para a Federação Irlandesa encerrar seus protestos por um erro de arbitragem que a tirou daquele Mundial. Foi na repescagem contra a França. O valor supera em 1,1 milhão de euros o ganho anual do francês Pogba, da Juventus, segundo números divulgados pela imprensa europeia.

Mas há também casos reais em real. A Justiça americana afirma que Hawilla aceitou pagar R$ 2 milhões por ano em propinas para serem divididos entre três cartolas brasileiros. Isso por ter comprado os direitos da Copa do Brasil.

A quantia repartida por eles corresponde a seis meses de trabalho do atacante Paolo Guerrero no Corinthians. Ele ganhava cerca de R$ 350 mil mensais no clube que acaba de trocar pelo Flamengo. Seja lá quem forem os dirigentes que receberam o suborno, nenhum deles marcou gol em final de Mundial de Clubes como o peruano diante do Chelsea, em 2012, no Japão.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.