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Escândalo pode atrapalhar seleção? Bicampeão mundial, deputado diz que sim

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10/06/2015 09h03

Entrevista com o deputado federal João Derly (PCdoB-RS), bicampeão mundial de Judô e que participou da audiência com Marco Polo Del Nero na Câmara nesta terça.

O senhor ficou satisfeito com as explicações de Del Nero (sobre o "propinobol", escândalo de corrupção que abala o futebol mundial)?

 Não. Ele escorregou bastante nas perguntas, foi liso. No começo estava inseguro, tentou tirar o foco das perguntas mais importantes, se alongou para falar do 7 a 1 da Alemanha. Perguntei sobre o coconspirador número 12 (acusado de receber propina), que tem credencias que batem com as dele. Perguntei se ele tem ideia de quem pode ter essas credenciais além dele. Ele disse que não sabe. Acho estranho, nós procuramos alguém que tivesse as mesmas credenciais e não achamos. Pedi para que ele renuncie e deixe a investigação prosseguir. Também para não denegrir mais o futebol brasileiro. Seria um ato de coragem e grandeza, mas (Del Nero) disse que não vai renunciar.

 O senhor acha que, se ele continuar como presidente da CBF, pode atrapalhar as investigações, mesmo sendo feitas pelo FBI?

De fato, não sei. O que sei é que isso atrapalha os atletas, acaba respingando neles. É só ver agora, eles estão se preparando para disputar a Copa América e têm que responder sobre isso todos os dias. Então, ele poderia fazer esse gesto de grandeza, dizer: "não devo, mas vou sair para não atrapalhar".

Sua experiência como judoca mostra que isso atrapalha o atleta?

Sim. Eu sou da época dos Mamede (família que ficou 31 anos na direção da Confederação Brasileira de Judô e viveu conflitos com os judocas) e sei como essas coisas atrapalham. No nosso caso, a gente tinha que pagar o pacote de turismo que a confederação indicava para poder viajar e competir. Não adiantava achar um mais barato. A vontade era de estrangular o cara (dirigente) que estava viajando de graça. Quem competia era extorquido.

Dá para comparar a era Mamede com o que acontece no futebol hoje?

Sim. Os dois casos mostram como são importantes as leis para dar mais transparência ao esporte.

Quais devem ser os próximos passos da câmara em relação ao envolvimento de brasileiros nesse escândalo de corrupção?

Vamos tentar conseguir a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) com o Senado, porque a CPI na Câmara vai levar mais tempo, tem que entrar na fila. No Senado é mais rápido.

Quais seriam suas prioridades na CPMI?

 Eu pediria uma investigação a fundo na movimentação financeira de todos os envolvidos, a quebra do sigilo bancário deles e todos os contratos da CBF.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.