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Pressionado, Nobre demite, em média, um técnico a cada três meses em um ano

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09/06/2015 16h02

Oswaldo de Oliveira durou seis meses no Palmeiras. Resistiu praticamente o dobro de tempo que seus antecessores Dorival Júnior e Ricardo Gareca. Em 13 meses, desde a saída de Gilson Kleina, Paulo Nobre demitiu quatro treinadores. Média de um técnico a cada 3,25 meses.

E o que isso mostra? Mostra que o presidente prega a modernidade administrativa, mas sucumbe à pressão de conselheiros, tal qual um cartola da antiga. Como nas outras demissões, era grande a gritaria contra Oswaldo.

Indica também que Nobre não confia muito no planejamento feito por sua diretoria, com aval dele, pois não dá muito tempo para as coisas acontecerem. Com Gareca, o alviverde desandou a contratar conterrâneos do treinador, a pedido dele, mas abortou o projeto argentino. Então, trouxe Dorival, que não comemorou o ano novo no cargo.

Com Oswaldo veio a onda de otimismo que partiu do gabinete do presidente e tomou as arquibancadas, com parte da imprensa como fio condutor.

Mas o sinal verde para um ano de sucesso se transformou em vermelho. Veio a ameaça de brigar apenas para não ser rebaixado no Brasileiro. Três empates e duas derrotas foram suficientes para os corneteiros atacarem e o medo superar a esperança. Depois de 21 contratações para a temporada, a diretoria descobriu que não adiantaria contratar se não mudasse o técnico.

Nobre agora está livre da pressão para trocar de treinador, mas está espremido por outra, a da escolha do substituto. Marcelo Oliveira é naturalmente o nome mais forte, mas existem conselheiros que preferem Cuca. Entendem que não é saudável para o clube ter um técnico que já trabalhou muito tempo com o gerente de futebol, como aconteceu com Marcelo e Alexandre Mattos no Cruzeiro.

Independentemente de quem escolher, o presidente corre o risco de entrar para a história do Palmeiras como um cartola guiado basicamente por dois instintos. Um é o de torcedor capaz de tirar milhões do bolso e colocar no clube, um apaixonado que corneta o time em seu camarote como se estivesse na arquibancada. O outro é o de sobrevivência política, que o fez se alinhar com o ex-presidente Mustafá Contursi e que o deixa vulnerável a pedidos de demissão de treinadores. Essa combinação tem grande potencial para impedir que Nobre seja lembrado como o administrador que planejou, resistiu a pressões e venceu.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

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