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Da bronca ao patrocínio ampliado. O que mudou entre Palmeiras e Crefisa

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02/02/2016 06h00

Uma estrondosa reclamação em público contra Paulo Nobre seguida de mais de dois meses de silêncio constrangedor entre o comando dos dois parceiros. Esse roteiro parecia encaminhar a relação entre Palmeiras e os donos da Crefisa e da FAM para o fim precoce ou, pelo menos, para um congelamento. Porém, comprovando a montanha-russa que virou a convivência entre eles, de repente, as empresas de José Roberto Lamacchia e Leila Pereira colocaram mais dinheiro no clube e se transformaram nas únicas patrocinadoras do uniforme alviverde.

Colar o vaso quebrado foi uma operação lenta e que teve como principais personagens o filho de um ministro e um vice-presidente do clube apontado como provável candidato à presidência do Palmeiras.

O casal de empresários nunca mais tinha falado com o presidente alviverde desde que, em novembro, Leila deu declarações rancorosas ao jornal Lance! para se queixar de Nobre planejar lançar uma camisa comemorativa com o patrocínio da Parmalat. A língua afiada da empresária fez o cartola sangrar publicamente ao chamar seus reforços de contratações de quinta categoria, entre outras estocadas.

Desabafo feito, camisa cancelada, o casal esperava uma retratação de Nobre que não veio. A reação foi a mais dura possível: os patrocinadores decidiram não aumentar seus investimentos no Palmeiras. Também paralisaram as obras de um prédio do CT do clube até que fosse assinado o contrato referente à construção.

Nesse ponto, entraram em ação Eduardo Rodrigues, que recentemente tinha assumido a função de gerir a parceria pelo lado do patrocinador, e Maurício Percivalle Galliotte, vice-presidente palmeirense. Os dois trataram de discutir formas de melhorar o relacionamento e ainda tiveram que superar outro abalo provocado pelo fato de os patrocinadores não serem convidados para a festa de comemoração do título da Copa do Brasil.

Rodrigues, filho do ministro dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues, que é palmeirense, passou a se reunir uma vez por semana com membros do departamento de marketing palmeirense para tratar da parceria. Galliotte criou o hábito de aparecer, ainda que brevemente, nos encontros.

O cartola se engajou na missão de reaproximar os patrocinadores do clube e teve a ideia de fazer a apresentação de Jean na sede da FAM. Lá apareceu com uma camisa do Palmeiras já sem as marcas de Prevent Sênior e TIM, sinalizando aos empresários que o caminho estava livre para se tornarem os únicos patrocinadores. Esse era um projeto antigo, interrompido pelo episódio envolvendo a Parmalat.

A ideia seduziu Leila e Lamacchia. Rodrigues passou a costurar o novo acordo com o vice palmeirense. Mas faltava ainda um empurrão para reaproximar os parceiros.

A oportunidade veio durante a viagem do Palmeiras para disputar o Torneio de Verão do Uruguai. Rodrigues foi convidado para viajar com a delegação. Lá, gravou uma declaração dada por Nobre para TV Palmeiras na qual o cartola falava da importância da Crefisa para o clube. Leila ouviu a afirmação e pediu para seu funcionário repassar uma mensagem amistosa para o dirigente.

Após a troca de afagos, faltavam apenas detalhes para o novo contrato de patrocínio ser selado. Então, na última quarta, Leila e Lamacchia decidiram que deveriam ir no dia seguinte até o clube para bater o martelo pessoalmente num encontro com Nobre. Foi a primeira vez que empresários e dirigente conversaram desde que a dona da Crefisa e da FAM tinha soltado os cachorros no presidente.

Depois do encontro de quinta, Leila voltou ao clube para o anúncio do reforço no patrocínio, na sexta. Além da exclusividade na camisa, suas empresas ganharam espaço também no calção e nos meiões do time.

Oficialmente, ninguém fala sobre valores. Mas os cartolas contabilizam R$ 66 milhões anuais de patrocínio (R$ 58 milhões pela camisa e R$ 8 milhões por calção e meião).

Já nas empresas patrocinadoras a conta que se faz é de que o investimento mensal no Palmeiras será de R$ 6,5 milhões, o que dá R$ 78 milhões por ano.

Os números impressionam, ainda mais pelo recente passado de desavença entre as partes. "Nunca houve briga, havia um afastamento, mas isso acabou. Tenho certeza de que a partir de agora essa relação só vai melhorar", disse Rodrigues ao blog.

A paz atual (pelo histórico dos parceiros não dá para garantir que ela será duradoura) passou pelo entendimento de Lamacchia de que precisava se controlar para não deixar seu lado torcedor interferir na parceria, segundo amigos dos empresários. Eles contam que José Roberto era contundente nas críticas ao desempenho do time e que chegou a falar ter vontade de enfiar Barrios num avião para fora do país, depois de má atuações. Agora, está mais contido, contam pessoas próximas.

Por sua vez, Nobre parece ter decidido fazer a manutenção da parceria com doses de agrados em público. Nesse sentido, foi emblemática a declaração do presidente no anúncio do novo acordo:

"Esse relacionamento vai acabar gerando a famosa era Crefisa no Palmeiras", disse o presidente. Impossível não lembrar da era Parmalat, justamente a empresa que foi o estopim para a explosão de Leila.

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.