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Caso Maidana tem até suposto envolvimento do PCC citado em depoimento ao MP

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02/04/2016 07h59

Um dos trechos mais escabrosos da investigação do Ministério Público sobre supostas irregularidades no São Paulo levanta a suspeita de envolvimento do PCC na compra de Iago Maidana.

A denúncia foi feita por Newton Luiz Ferreira, o Newton do Chapéu, ex-candidato à presidência são-paulina. Ele afirma ter participado de conversa por viva voz entre um dos agentes envolvidos no negócio e um sócio do clube. Durante a ligação, segundo seu relato, o empresário declarou que o dinheiro usado pelo Monte Cristo na compra do jogador junto ao Criciúma veio da facção criminosa Primeiro Comando da Capital.

O sócio citado, Guaraci Sampaio Araújo, ex-assessor do departamento de esporte amadores, porém, afirmou em seu depoimento não lembrar de ter ouvido o empresário Edvaldo Pires fazer a afirmação sobre a verba do PCC. Ao blog, a direção do time goiano negou uso de dinheiro ilícito na compra do atleta. Maidana foi repassado em seguida à equipe do Morumbi por R$ 1,6 milhão a mais do que a quantia investida na aquisição.

Mas a negativa não encerrou o assunto para o MP. A suspeita aguçou o faro dos promotores. "Nós temos meios para saber se foi usado dinheiro com origem criminosa na compra do Maidana e estamos investigando. Nossa prioridade é saber se houve lavagem de dinheiro, até para podemos ajudar na criação de medidas de combate à essa prática no futebol", disse ao blog Arthur Pinto de Lemos Júnior, do GEDEC (Grupo de Atuação Especial de Repressão à Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos).

Em seu depoimento ao MP, Guaraci contou que conheceu Edvaldo ao fazer uma corrida para ele até o hotel Ibis. Ao ouvir o empresário falar sobre a negociação de Maidana, explicou que era sócio do São Paulo e queria saber o que tinha acontecido. Declarou ter ouvido que como o Criciúma estava criando dificuldades para vender o jogador para o clube paulista, o empresário, representando a Itaquerão Soccer, se ofereceu para viabilizar a negociação.

Guaraci conta que a partir daí ficou amigo de Edvaldo, que pedia indicações de garotos do departamento social do São Paulo que jogassem futebol. Contudo, ele afirma não se lembrar de o empresário ter dito que foi usado dinheiro do PCC na compra de Maidana. Ele teria conversado com Edvaldo por telefone no escritório de Newton, para quem teria contado sobre o caso.

No trecho sobre o depoimento de Guaraci está registrado que o suposto uso de dinheiro da facção criminosa chegou ao conhecimento de pelo menos mais um conselheiro do São Paulo. José Francisco Manssur, hoje vice-presidente de comunicação e marketing, soube da denúncia no ano passado, e fez uma acareação entre Guaraci e Newton, mas o sócio negou ter dito que o dinheiro era do PCC.

Ao blog, Manssur confirmou que juntou Guaraci e Newton num jogo do São Paulo para fazer a acareação. Ele ratificou que o taxista negou ter ouvido sobre dinheiro do PCC na compra de Maidana, e que Newton não gostou da resposta.

Procurado, Moises Luis do Nascimento, diretor de futebol do Monte Cristo e que já ocupava o cargo quando Maidana foi comprado, em 2015, atestou a origem lícita do dinheiro.

"Não estão reconhecendo o trabalho sério que estamos fazendo aqui. Claro que não tem dinheiro de facção criminosa na negociação. A Itaquerão Soccer fez o empréstimo para podermos comprar o jogador. Eles até deram um caminhão como garantia para levantar o dinheiro", declarou Nascimento.

Segundo ele, Maidana custou R$ 400 mil ao Monte Cristo. De acordo coma investigação do MP, dias depois de sua contratação, o clube vendeu o atleta para o São Paulo por R$ 2 milhões.

Como mostrou o blog nesta sexta, Maidana disse ao MP que primeiro acertou sua transferência para a equipe tricolor. Depois, assinou a rescisão com o Criciúma e um contrato com o Monte Cristo, clube no qual admitiu nunca ter pisado.

Outro que negou ter sido usado dinheiro do PCC na operação foi Wilton Martins de Oliveira, um dos donos da Itaquerão Distribuidora, que segundo ele empresou R$ 400 mil para a Itaquerão Soccer na operação Maidana.

"Não sei quem falou em PCC, mas vou processar quem disse isso para o Ministério Público. Pode vir aqui e ver todos documentos, tenho o comprovante de que fizemos três empréstimos para levantar os R$ 400 mil. Como a Itaquerão Soccer estava começando, não tinha dinheiro. Então, quem emprestou para o Monte Cristo foi a distribuidora de bebidas", disse Oliveira, que afirmou também atuar na Itaquerão Soccer.

No procedimento aberto pelo MP, estão anexadas fotos que mostram mercadorias no endereço da Itaquerão Soccer. Segundo a investigação, isso dá a entender que ela é uma extensão da vizinha Itaquerão Distribuidora.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.