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O que a Odebrecht diz que não fará na Arena Corinthians por falta de verba

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06/12/2016 09h27

O blog visitou a Arena Corinthians acompanhado de representantes da Odebrecht que deram a versão da construtora para itens que não foram feitos e são alvos de uma discussão com o clube.

A empresa afirma que deixou de executar vários pontos da obra porque o orçamento foi estourado. 

Pela explicação da Odebrecht, havia sido combinado inicialmente que o preço da construção seria de R$ 820 milhões, porém, esse valor subiu para R$ 985 milhões e foi registrado em um aditivo contratual. A Odebrecht alega que nesse montante não há lucro para ela, como afirma ter sido combinado pelas partes.

Entre os motivos para o estouro do orçamento listados pela construtora está uma relação de itens não especificados, ou seja com valores inicialmente indefinidos. A construtora afirma que o arquiteto responsável pela obra, Anibal Coutinho, pediu materiais muito caros nessa lista. Ela alega que, com a concordância do clube, foram executados trabalhos no valor de R$ 33 milhões referentes à essa relação, faltando outros R$ 38 milhões. Além desses materiais, parcerias que seriam feitas pelo clube para minimizar custos não foram efetivadas, segundo a Odebrecht, ajudando no não cumprimento orçamentário. Um dos exemplos dados pela empresa para justificar o encarecimento é a curvatura dos vidros da fachada do estádio. O projeto inicial, segundo a construtora, era reto, mas houve um gasto adicional de R$ 6,5 milhões para que fosse feita a curvatura dos vidros.

Curvatura que encareceu obra, segundo Odebrecht. Toto: Ricardo Perrone

Curvatura que encareceu obra, segundo Odebrecht. Foto: Ricardo Perrone/UOL

O custo do gramado passou, segundo a empresa, de R$ 4 milhões para R$ 7 milhões. Ainda conforme a construtora, o gasto com o sistema de extração de fumaça subiu de R$ 2 milhões para R$ 14 milhões porque o arquiteto não aceitou uma solução mais barata, que previa a cobertura de uma escada, que ficaria isolada em caso de incêndio.

Outro ponto citado pela construtora é a vitrine que protege o memorial com itens históricos do clube. Ela ficou 100% mais cara, segundo a empresa, por causa da exigência de vidros belgas. Seu custo foi de R$ 975 mil.

Vitrine de quase R$ 1 milhão, segundo Odebrecht Foto: Ricardo Perrone/UOL

Vitrine de quase R$ 1 milhão, segundo Odebrecht                    Foto: Ricardo Perrone/UOL

Procurado, o arquiteto Coutinho disse que precisava consultar seu cliente, o Corinthians, para saber se poderia responder ao blog, pois os contratos são protegidos por cláusula de confidencialidade. "Tenho mantido sigilo dos itens contratuais. Se eles forem revelados, os fatos serão em desfavor da parte que agora revela esses itens (Odebrecht). Se meu cliente liberar a revelação, isso será totalmente favorável ao clube", afirmou o arquiteto.

O Corinthians aguarda o fim de uma auditoria para dizer o que considera feito ou não pela construtora.

Abaixo, veja a lista de itens que a Odebrecht diz que deixou de fazer, quase todos por falta de dinheiro. O blog apurou que para o clube a relação é muito maior.

Granito

O piso da esplanada externa (a área em volta do estádio) e dos setores norte e sul seria todo de granito, como nas áreas oeste e leste. A construtora no entanto, alega que faltou dinheiro para bancar a obra, que custaria R$ 9.550.000. Assim, essas áreas foram entregues sem acabamento, apenas com contrapiso.

Por falta de verba, o piso de granito não foi colocado no setor sul. Foto: Diego Canha

Estante para troféus

No hall da entrada oeste, a mais luxuosa do estádio, ela custaria cerca de R$ 1 milhão, segundo a Odebrecht e exibiria taças conquistadas pelo clube. O espaço chegou a ser reservado e está isolado por questões de segurança. De acordo com a construtora, o Corpo de Bombeiros vetou a ideia por causa do vidro que protegeria os troféus e poderia ser usado como arma em eventuais brigas.

Local reservado para estante de troféus que não será instalada Foto: Ricardo Perrone/UOL

Local reservado para estante de troféus que não será instalada              Foto: Ricardo Perrone/UOL

Elevadores para portadores de necessidades especiais

Seriam dois, instalados nos setores norte e sul para levar os torcedores com dificuldade de locomoção até o andar inferior, onde ficam os banheiros construídos para eles. Por falta de dinheiro não foram instalados. Segundo a Odebrecht, ficou acordado com o Ministério Público que a operação do estádio se responsabilizaria em levar essas pessoas para os banheiros especiais no andar das arquibancadas nos outros setores da arena. Porém, há banheiros químicos instalados para eles nas áreas sul e norte.

Chapas decorativas

Oito chapas perfuradas que seriam instaladas nas paredes do setor oeste foram descartadas porque custariam R$ 2,4 milhões nas contas da construtora.

Espelhos d´água

Eles ficariam do lado de fora da arena e foram cortados por questões financeiras.

Acabamento em terraço

Parte do revestimento do terraço do camarote festa, um dos locais considerados cruciais no projeto para a arrecadação de dinheiro, não foi instalado apesar de ter sido comprado. Segundo a Odebrecht, o instalador subiu o preço depois da Copa do Mundo, o que teria inviabilizado a colocação.

Acabamento incompleto de terraço na arena Forto: Ricardo Perrone/UOL

Acabamento incompleto de terraço                 Foto: Ricardo Perrone/UOL

Refletores

Uma lona preta, avaliada pela Odebrecht em R$ 150 mil, deixou de ser comprada por falta de dinheiro. Ela seria instalada em volta deles.

Monitores de TV

Em algumas áreas do estádio, há espaços nas paredes para a colocação de televisores que permitiriam aos torcedores acompanharem os jogos enquanto circulassem pela arena. Segundo a Odebrecht, eles não foram instalados porque o Corinthians ficou de fazer permutas para obter os aparelhos, mas não fechou os acordos comercias.

Espaço para monitor de TV no setor oeste Foto: Ricardo Perrone

Espaço para monitor de TV no setor oeste Foto: Ricardo Perrone/UOL

Guarda-corpos

Até hoje o estádio tem nos setores norte e sul guarda-corpos que seriam provisórios para a Copa do Mundo. Segundo a Odebrecht, eles não foram instalados pela empresa e não estavam previstos no projeto original.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.