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Relatório aponta despreparo do Corinthians na relação com Odebrecht

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19/12/2016 09h45

Relatório da comissão de conselheiros do Corinthians formada para acompanhar auditoria na obra da arena alvinegra aponta que houve desequilíbrio na relação entre clube e Odebrecht. A conclusão é de que a construtora sempre contou com um grupo de profissionais altamente especializado ao discutir pontos divergentes, enquanto o clube não montou uma estrutura no mesmo nível para enfrentar a empresa quando necessário.

Diante desse quadro, o relatório sugere "a criação por parte do Corinthians de um grupo bem estruturado, contando com profissionais das áreas jurídica, engenharia e financeira. É interessante que esse grupo de profissionais não tenha tido qualquer envolvimento com a realização da arena para evitar algum tipo de constrangimento".

Ou seja, a proposta é para que o clube troque os responsáveis por cuidar da arena, sempre liderados pelo ex-presidente Andrés Sanchez, por uma equipe de especialistas. A recomendação para que os novos indicados não tenham participado do projeto tem a ver com o entendimento da comissão de que os que lidaram com a Odebrecht até aqui deixaram brechas para a construtora contestar seus argumentos provocando situações constrangedoras.

"A Odebrecht é uma empresa de grande porte com um corpo profissional de engenheiros, financistas e jurídico muito bem estruturado. Pelo lado do Corinthians, do ponto de vista de engenharia, o Corinthians contava apenas com um engenheiro, Jorge, que sai do Corinthians já em 2013. Do ponto de vista jurídico, apesar de ter contratado o escritório Machado Meyer (que não está mais no caso), aparentemente não foi suficiente. Consequentemente, o primeiro ponto que chama a atenção é o desequilíbrio entre a representação da CNO (Construtora Norberto Odebrecht) e a do Corinthians", aponta trecho do relatório.

Não está escrito dessa forma no documento, mas a percepção de pelo menos parte dos conselheiros autores do estudo é de que os representantes do Corinthians agiram como adolescentes crentes de que tudo poderiam conseguir ou ainda como alunos do jardim da infância discutindo com PhDs formados em Harvard, preparados para uma guerra.

Tendo como base trocas de correspondências, outra constatação dos conselheiros que não está escrita no relatório é a de que os que falam pelo clube apresentam versões distintas para mesmos fatos em divergências com a Odebrecht.

O documento também registra que durante a construção houve um aumento significativo das despesas e ao mesmo tempo um atraso na obtenção de receitas além da deterioração da situação econômica do país e que esse quadro prejudicou a geração de receitas e afetou projetos como as vendas de camarotes e dos naming rights.

"No tocante às obras, temos duas situações complexas. De um lado existem obras que necessitam ser completadas até para dar sustentação financeira ao projeto, como por exemplo o término dos camarotes. Adicionalmente, questionam-se algumas questões estruturais mais profundas", relata outro ponto do relatório.

A Odebrecht afirma que os camarotes foram concluídos.

Apesar de ter entregue seu relatório, a comissão alega que tentou agendar reuniões com a empresa responsável pela auditoria encomendada pelo clube para avaliar se a Odebrecht cumpriu o contrato, mas que não foi atendida. Seu trabalho foi feito em cima de outra auditoria contratada em 2013, de contratos referentes à construção e de conversas com Anibal Coutinho, arquiteto responsável pelo projeto da Arena Corinthians.

Segundo membros da comissão, os responsáveis pela auditoria atual alegaram que não poderiam se reunir para detalhar seu trabalho por não terem recebido muitos documentos pedidos à construtora, que alega existirem contratos com cláusula de confidencialidade.

A comissão responsável pelo relatório é formada pelos conselheiros, Carlos Antonio Luque, Antonio Roque Citadini, Flávio Adauto (diretor de futebol), Emerson Piovezan (diretor financeiro) e Newton Ferrari.

Andrés Sanchez, principal responsável pela arena do lado corintiano, não pode ser ouvido, pois não fala com o blog.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.