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Como Paulo Nobre sumiu do mapa palmeirense

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17/03/2017 04h00


Como presidente Paulo Nobre ajudou o Palmeiras a conquistar uma Copa do Brasil, a voltar a ser campeão brasileiro após 22 anos, a vencer uma importante disputa com a WTorre relativa ao estádio alviverde e emprestou cerca de R$ 200 milhões ao clube. Mesmo com esse currículo, três meses após deixar o cargo ele está praticamente fora do mapa político alviverde.

O ex-mandatário se licenciou do Conselho Deliberativo e do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) e vê seu grupo, o Academia, perder musculatura.

A rapidez com que o ex-dirigente sumiu do cenário é fruto de uma série de acontecimentos que envolvem o desejo não realizado de continuar envolvido com o departamento de futebol, a pouca bola que ele dava para conselheiros enquanto estava no poder, a eleição do casal dono da Crefisa e da FAM (Faculdade das Américas) para o Conselho Deliberativo, o poder do ex-presidente Mustafá Contursi e a frustrada expectativa em relação à chegada de um novo investidor/patrocinador com mais dinheiro do que os atuais.

A situação de Nobre teria sido diferente se a vontade expressada por ele enquanto ainda estava no poder tivesse sido atendida. O blog apurou que, durante a montagem da chapa que elegeu Maurício Percivalle Gagliotte, ele foi indagado sobre o que gostaria de fazer se participasse da nova gestão. Respondeu que só participaria se fosse para ficar próximo ao departamento de futebol. Não como diretor, mas de maneira ativa. O nome do cargo não foi discutido e nem o convite veio.

Segundo pessoas próximas a ele, o fato de não ter sido chamado é só um pequeno ponto de chateação com o sucessor, eleito após sua indicação. O caminho que levou ao isolamento voluntário de Nobre começou a ser trilhado antes, no início de seus atritos com a Crefisa.

Depois do conflito causado pelo fato de o clube ter autorizado a Adidas a produzir uma camisa comemorativa com a marca da Parmalat sem consultar os patrocinadores atuais, Nobre designou Gagliotte para fazer a ligação com os donos da Crefisa. O então vice-presidente passou a apagar incêndios e a conquistar a confiança dos empresários.

Ao mesmo tempo, Mauricio também era mais atencioso com conselheiros que não se sentiam atendidos pelo presidente. O vice, que já era afinado com o ex-presidente Mustafá Contursi, ganhou tamanha simpatia no clube que ficou inviável a candidatura de outro vice-presidente, Genaro Marino. O segundo nome é considerado mais fiel a Nobre, tanto que ficou ao seu lado no episódio da tentativa de impedir a candidatura de Leila Pereira ao conselho. Se ele tivesse sido eleito, provavelmente o status do ex-presidente hoje seria outro e ele participaria da administração.

De acordo com três conselheiros e um membro da atual diretoria, o relacionamento frio de Nobre com os integrantes do conselho dificultou sua missão de tentar fazer com que a eleição de Leila fosse impugnada pelo órgão. Enquanto estava sentado na cadeira de presidente, ele praticamente não fazia política. Conselheiros se queixavam que suas sugestões e pedidos eram ignorados pelo presidente. Então, no momento em que ele resolveu peitar Mustafá, que apoiava o casal de patrocinadores, deram o troco deixando de estender a mão ao ex-presidente.

O cheiro de derrota era tão grande que Nobre nem apareceu à votação sobre a impugnação defendida por ele. Leila ganhou com facilidade, e os apoiadores do ex-presidente ficaram chateados por ele não atender ao pedido para comparecer à reunião.

Último a saber?

A candidatura de Leila está no centro do racha de Nobre com seu sucessor e ajuda a explicar o afastamento do ex-presidente.

Segundo gente próxima a Nobre, o ex-dirigente se sentiu traído por que só teria ficado sabendo em novembro que Mustafá protocolou a carta na qual afirmava ter dado em 1996 o título de sócia do Palmeiras para Leila e que assegurava a ela o direito de ser candidata ao Conselho Deliberativo e de votar na última eleição. A mensagem teria sido recebida em fevereiro por José Eduardo Luz Calliari, diretor financeiro e eleito no mês seguinte conselheiro vitalício. Galiotti rapidamente teria sido informado, mas não teria repassado a informação ao presidente.

Por essa versão, Nobre só soube no fim de seu mandato o que sustentava a candidatura de Leila. Por isso, vetou o nome dela como candidata apenas quando se preparava para tirar a faixa presidencial. Antes disso, só teria ouvido de Mustafá sobre o projeto para a dona da Crefisa ser candidata, respondendo que não tinha nada contra, desde que fosse de forma legal. Depois, não teria ouvido mas sobre o assunto.

Também de acordo com o grupo de Nobre, ao tomar conhecimento da carta, ele encomendou um parecer ao departamento jurídico do clube que foi contrário à candidatura da empresária. A alegação é de que o título que teria sido dado em 1996 nunca foi registrado por ela, assim não tem valor. É adicionada a essa sustentação a informação de que a empresária comprou um título em 2015.

Porém, aliados de Mustafá têm versão diferente. Afirmam que em fevereiro Nobre concordou com a candidatura de Leila e que soube da existência da carta pouco depois de ela ser protocolada. Declaram que ele ficou calado para não perder o apoio do ex-presidente e só se manifestou quando estava deixando o cargo.

Mais dinheiro do que a Crefisa?

A missão de barrar a candidatura de Leila se tornou impossível porque ninguém no clube queria pensar na possibilidade de perder os milhões vindos da Crefisa e da FAM. Segundo três conselheiros e dois membros da diretoria, Nobre chegou a acenar com um investidor que seria mais endinheirado do que o casal. Quatro dos ouvidos falam que a estimativa era de que fossem injetados R$ 800 milhões no clube. Um deles, ligado ao ex-presidente, nega o valor, mas admite que havia a possibilidade de o dirigente trazer um patrocinador chinês, só que o negócio não avançou.

Futuro

Hoje, Nobre é descrito por conselheiros como magoado e totalmente avesso à ideia de voltar a fazer parte da política palmeirense, diferentemente de outros presidentes, como Mustafá Contursi, Affonso Della Monica e Arnaldo Tirone. Mas tanto adversários como os poucos aliados que sobraram não descartam que ele retorne no momento em que as condições forem menos adversas.

Procurados pelo blog, Nobre e Maurício não quiseram se manifestar. Calliari não foi localizado pelo blog.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.