Análises notam falta de transparência em contas corintianas e regra ferida
Relatórios do Conselho Fiscal do Corinthians e de empresa de auditoria contratada para analisar o balanço do clube referente a 2016 apontam dificuldade na obtenção de documentos essenciais para análise. Por conta dos relatos de falta de transparência, opositores estudam medidas para tentar anular a aprovação feita nesta quinta pelo Conselho Deliberativo e até um novo pedido de impeachment.
O artigo 81 do estatuto diz que o conselho deve apreciar o relatório geral do presidente da diretoria sobre as contas, que não foi apresentado ao conselho deliberativo. Além disso, o conselho fiscal do clube aponta em parecer que não recebeu o relatório da diretoria, ao contrário do que determina o estatuto. Desobediência às regras do clube é um dos motivos para pedidos de impeachment. Ela precisa ser comprovada e o afastamento aprovado pelo conselho, que já rejeitou um processo de destituição contra Andrade.
Em seu parecer, o Conselho Fiscal corintiano afirma que analisou as contas sem os relatórios de gestão de diretoria e de auditoria interna, além de não receber informações sobre operações realizadas. "Nos foi disposto um prazo curto para o balanço do exercício de 2016, para uma análise e aprovação ou não, sem elementos para um estudo minucioso e necessário", afirma o relatório.
Mesmo assim, o conselho fiscal considerou as demonstrações contábeis aptas a serem votadas pelos conselheiros. O artigo 102 do estatuto diz que o órgão tem que examinar o balanço anexado ao relatório anual da auditoria, que não foi apresentado, segundo o parecer.
Incerteza sobre arena
O blog teve acesso também à minuta do relatório da Parker Randall Brasil, especializada em auditoria, feito sobre o balanço de 2016 (leia aqui). A minuta foi enviada aos conselheiros, sem assinatura. Num de seus trechos mais importantes, o parecer encaminhado para a diretoria a fim de ser discutido, afirma que há "incerteza significativa relacionada à continuidade operacional do investimento Arena Fundo de Investimento Imobiliário", responsável pelo estádio corintiano. Essa é uma das três ressalvas feitas às contas apresentadas.
A incerteza existe, segundo a análise dos auditores, por conta da decisão da administradora BRL Trust de sair do fundo. "Solicitamos apresentação formal dos consultores jurídicos do clube para avaliação dos potenciais riscos contingenciais daquela decisão (saída) do gestor do fundo. Até a emissão desse relatório não havia sido apresentada a resposta…", diz trecho da minuta.
O relatório lembra que o fundo tem como principal ativo o estádio alvinegro e que a continuidade operacional do empreendimento depende da geração de receitas para fazer face à manutenção de sua estrutura operacional, assim como para o cumprimento da liquidação dos passivos e demais fontes de investimento relacionadas à construção do empreendimento."
Em outra ressalva, o documento afirma que os auditores não obtiveram resposta à totalidade das solicitações de confirmação direta de resposta sobre quatro assessores jurídicos. O saldo da dívida do Corinthians com eles seria de R$ 20,4 milhões.
No mesmo item está registrado que a auditoria não recebeu confirmação de depósitos e empréstimos de Caixa, Polo Fundo de Investimento, Horizonte Conteúdos e Bradesco com saldos de R$ 1,3 milhão (ativo) e R$ 30,9 milhões (passivo). Também não foram obtidas confirmações de valores a receber de Globo, Federação Paulista, Caixa, Apollo Sports Solution, Estrella de Galícia Importadora e Comércio de Bebidas, AMC assessoria em negócios, Boca Juniors e valores a pagar para fornecedores.
Em mais uma ressalva, o parecer contesta a reavaliação de bens do ativo imobilizado do clube. Afirma que ela foi feita em desacordo com práticas contábeis e que em 31 de dezembro de 2016 os saldos imobilizado e do patrimônio líquido foram apresentados a maior em R$ 407,7 milhões.
O blog enviou mensagem por celular para Emerson Piovezan, diretor financeiro do Corinthians, mas ele não mandou resposta até a publicação do post, apesar de visualizar o texto. Roberto de Andrade não atendeu à ligação do blog.
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