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Opinião: Clubes confirmam desunião com movimento enfraquecido contra CBF

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09/04/2017 09h33

Marco Polo Del Nero deve ter soltado rojões na última sexta ao saber que apenas seis clubes compareceram à reunião em São Paulo para discutir o que fazer diante da mudança no estatuto da CBF. A alteração deu peso maior ao voto das federações em relação às agremiações, sem que os times fossem convocados para a assembleia responsável pela decisão.

Nem os paulistas apareceram no encontro, apesar de São Paulo ter sido escolhida justamente para tentar atrair os quatro grandes do Estado.

Com o baixo quórum, os dirigentes comprovaram a fama de desunidos e ainda escolheram partir para um campo de batalha no qual a confederação se sente à vontade: o Congresso Nacional.

Como mostrou o blog do Rodrigo Mattos, Flamengo, Fluminense, Bahia, Atlético-PR, Coritiba e Atlético-MG, foram os únicos a comparecer à reunião em São Paulo. Eles decidiram consultar parlamentares com quem têm proximidade para saber se a CBF descumpriu a Lei Pelé ao convocar a assembleia de mudança do estatuto sem a presença dos clubes.

Responderam com tiro de chumbinho ao disparo de canhão da CBF. E ainda escolheram instalar sua trincheira num local em que a confederação está acostumada a se articular e sair ilesa. Três CPIs estão aí para provar.

Pelo menos os seis decidiram agir. Tiveram postura melhor do que a dos que não foram e nem mandaram representantes, principalmente os paulistas. O santista Modesto Roma Júnior trabalhou na articulação de uma reunião para discutir o tema, mas estava na Europa no dia escolhido. O são-paulino Leco, candidato à reeleição, explica que tinha compromissos de campanha. O palmeirense Maurício Gagliotte não respondeu ao blog sobre a ausência por meio de sua assessoria de imprensa até a publicação deste post. E o corintiano Roberto de Andrade não foi localizado.

Seja qual for a explicação, os cartolas dos principais clubes paulistas terão de conviver com a desconfiança de que não apareceram porque estão alinhados com Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF e que já foi aceito por eles como líder em outra disputa, com a Conmebol.

Esvaziando o movimento criado para tentar encarar a CBF, os paulistas simbolizam a desunião dos clubes brasileiros, criticada por alguns cartolas, como Romildo Bolzan, do Grêmio.

Enquanto os clubes demonstram cada vez mais fragilidade, a única medida prática foi tomada por Otávio Leite (PSDB-RJ). O deputado pede que o Ministério Público tome medidas para anular a assembleia da CBF. Ele sustenta que o Profut, projeto do qual foi relator, fez alteração na Lei Pelé que obriga a confederação a convocar os times da primeira e da segunda divisão para suas assembleias.

O Profut, aliás, deu poder de voto às equipes da Série B. Antes só os clubes da elite votavam e seus votos tinham o mesmo peso das federações, maioria no colégio eleitoral. Para manter o domínio das entidades estaduais, a CBF deu peso três ao voto delas, dois ao dos times da Série A e um ao das equipes da segunda divisão. Del Nero apostou na desunião dos clubes e ganhou mais uma.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.