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Opinião: técnico Ceni trata mal a realidade como nos tempos de goleiro

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14/05/2017 10h59

Do goleiro Rogério Ceni em abril de 1999 ao responder sobre sua atuação, após falhar nos dois gols do Barcelona  em vitória por 2 a 0 sobre a seleção brasileira:

"Acho que fiz uma boa partida, mas por dois lances isolados ninguém percebeu isso. As bolas poderiam ter escapado das minhas mãos e algum dos zagueiros ter tirado de cabeça. Mas infelizmente saíram dois gols. Foi uma boa atuação e se não tivessem saído dois gols teria sido uma das melhores atuações de um goleiro nos últimos tempos pela seleção".

 Do técnico Rogério Ceni, em maio de 2017, ao responder se a eliminação do São Paulo na Copa Sul-Americana, diante do modesto Defensa y Justicia, após empate em um gol no Morumbi foi um vexame:

"Não acho que foi vexame… Conseguimos sair na frente. Numa desatenção, com a linha totalmente posicionada, a bola sem querer sobra para o jogador que vem de trás e ele acerta um belo chute… Não foi um dos piores jogos (do time sob seu comando)".

Do goleiro Rogério Ceni em 2001, ao ser questionado por este bolgueiro, então repórter da "Folha de S.Paulo", sobre se ele entendia que tinha falhado em gols do Flamengo numa das partidas finais da Copa dos Campeões, vencida pelo adversário:

"Acho sua pergunta ridícula".

Do técnico Rogério Ceni, em 2017, também depois da eliminação contra o Defensa Y Justicia após um repórter falar que os treinos fechados dificultam a percepção da imprensa:

"De vez em quando, nem quando é aberto vocês (jornalistas) têm a percepção".

Os exemplos acima mostram, na opinião deste blogueiro, como o técnico Rogério demonstra a mesma dificuldade de lidar publicamente com a realidade que tinha nos tempos de goleiro.

A entrevista depois do jogo com os argentinos, que gerou críticas ao treinador no Morumbi, está recheada de demonstrações de como Ceni em momentos difíceis fala de uma realidade que a maioria das pessoas não vê. Como quando disse que o São Paulo bateu na trave na semifinal do Paulista contra o Corinthians. Perder o primeiro jogo por 2 a 0 em casa e empatar o segundo (1 a 1) é bater na trave? Se o São Paulo tivesse sido eliminado nos pênaltis, então, teria sido "gol"?

Se o treinador não se preocupa com o que a opinião pública pensa de sua realidade particular, deveria avaliar o que os atletas acham dela. Discurso tão distante do mundo real pode pegar mal junto ao elenco e fazer as palavras do comandante perderem força nos ouvidos dos comandados.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.