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Cobranças de parentes de vítimas mudam opinião sobre Chape, diz cartola

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23/08/2017 08h29

Entrevista com Rui Costa, diretor executivo de futebol da Chapecoense.

Como você analisa a reconstrução da Chape até aqui?

Cumprimos com as etapas estipuladas até aqui. Reconstruímos o departamento de futebol. A meta foi alcançada no Campeonato Catarinense com o bicampeonato. Tivemos uma participação mais do que digna na Libertadores. O time estava classificado e foi eliminado por uma manobra. A Chapecoense estava classificada e começou a virar um grande inconveniente, porque ninguém esperava, mas essa é uma outra história. A Copa Sul-Americana está aberta. Tínhamos um compromisso moral (jogar na Espanha em meio ao Brasileiro) com o Barcelona, único clube que nos deu apoio financeiro, associou sua marca à nossa e isso deu um retorno incrível. Só ficamos no Z4 quando estávamos com um jogo a menos. Agora, se ganharmos do Corinthians (nesta quarta), o que já se provou que não é impossível, o resultado vai nos remeter ao que queremos (se afastar da zona de rebaixamento). Permanecer na Série A é nossa meta. Num ano difícil para o clube a meta é terminar o Brasileiro de maneira digna. Se vencermos o Corinthians, vamos nos encaminhar bem para terminar o campeonato de maneira digna.

Então, o jogo com o Corinthians é chave para o planejamento de vocês?

Não. O momento chave era contra o Palmeiras porque estávamos voltando de uma viagem desgastante (para Europa e Japão) e logo enfrentando o adversário que talvez tenha o melhor elenco da América Latina. Uma derrota poderia consolidar nossa posição no Z4, seria a segunda derrota seguida na competição  e sofreríamos muita pressão externa. Mas ganhamos (por 2 a 0). Agora, o jogo do Corinthians é a chance de confirmação do que podemos fazer. Já empatamos com eles fora de casa. Então podemos confirmar que somos capazes de conseguir um bom resultado no nosso estádio. Já ganhamos do São Paulo, ganhamos do Palmeiras duas vezes. Vamos ter uma chance contra o Corinthians de confirmar essa capacidade. Se ganharmos vamos nos distanciar do grupo de baixo e mandar um recado pra muita gente, mas o momento chave foi contra o Palmeiras.

Bons resultados contra times paulistas é só coincidência?

Vejo isso como uma forma de ilustrar que nosso trabalho tem consistência. Jogamos bem contra adversários do Estado que talvez tenha o melhor futebol do Brasil. Todos têm uma grande estrutura. Se ganhamos do Palmeiras fora, podemos buscar o melhor contra o Corinthians. Esse é o grande recado para os atletas.

O fato de o Corinthians ter perdido seu último jogo para o Vitória, que também luta contra o rebaixamento, pode de alguma forma ajudar a Chape?

Não. O Corinthians é um time que tem muito a cara do seu treinador, respeita seus adversários e até as limitações que têm. É líder mas tem limitações. O que mais chama atenção é que os atletas são abnegados, têm comprometimento tático. Eles jogam assim contra todos adversários e não vão desconsiderar o jogo (em Chapecó).

Esportivamente, foi ruim para a Chapecoense ir jogar com o Barcelona, por causa do desgaste?

Foi cansativo, mas foi muito importante para os jogadores, para o clube e para mim mesmo, pelo conhecimento que adquirimos. Ninguém foi lá a passeio. Desportivamente foi impressionante. Você olhava para o lado e o Messi estava a metros de um jogador meu da base.

Qual episódio com o Messi que mais marcou?

A gentileza e a generosidade dele. Foi ao contrário daquela imagem de que ele é quase alheio às coisas. A maneira como ele foi extremamente generoso com todos do nosso time foi o ponto alto. O lado humano pesou muito.

Ter São Paulo e Vasco lutando também contra o rebaixamento preocupa?

Sim. Eles não são da turma de baixo. Vão fazer todos os esforços para sair de lá e isso nos pressiona.

Existe na Chapecoense alguém arrependido por não ter aceitado aquela tese de alguns clubes que defendiam que o time não fosse rebaixado mesmo se ficasse entre os quatro últimos para poder se recuperar melhor da tragédia?

Mesmo nos momentos mais difíceis ninguém mencionou que seria melhor ter essa blindagem. O povo de Chapecó tem a luta em seu DNA. Não lutar (para evitar a queda) seria se apequenar. Hoje (em Chapecó), a gente é cobrado, criticado, como qualquer time. Não queremos que o clube seja coitadinho, queremos que seja o clube reconstruído.

O fato de familiares das vítimas reclamarem do tratamento que recebem do clube, cobrarem indenizações e fazerem outras críticas tem feito a Chapecoense ser hostilizada por onde passa?

Ainda não. Pode ser que aconteça. Há uma reversão de imagem. Era o clube mais querido, o que tinha mais sofrido. A partir do momento e quem versões foram colocadas, elas começaram a ganhar força. A gente lá no vestiário percebe que há uma imagem um pouco diferente da Chapecoense hoje. Se isso vai aumentar, eu não sei. Sempre que temos alguma conquista aprecem matérias das famílias (fazendo cobrança), como se estivéssemos usurpando alguma coisa, fazendo desaforo para as famílias. Não falo como dirigente, representando o clube, mas a minha opinião pessoal é que as coisas vão melhorar se os dois lados estiverem juntos.

O deputado federal Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, disse que 'todo mundo sabe por que  Vágner Mancini saiu da Chapecoense, as coisas que ele fez,  e tudo que rola por trás disso'. Existe algo nebuloso na demissão do Mancini (hoje treinador do Vitória)?

Não teve nada nebuloso. Não sei o que o Sanchez quis dizer, mas não teve nenhuma situação excepcional, nada não revelável, nada de quebra de confiança. Ele saiu da Chapecoense pela porta da frente. Não posso fazer nenhum comentário que não seja para ressaltar a importância do trabalho dele para o clube, não tenho nenhum reparo na questão pessoal para fazer. Ele saiu porque o ciclo se encerrou, o que é normal no futebol.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.