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Em carta, diretor do SPFC diz que ex-gerente levou R$ 1,5 mi em 'caso U2'

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30/08/2017 04h00

Carta encaminhada ao presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, detalha como funcionaria o esquema de venda de ingressos inexistentes para shows no Morumbi. A mensagem foi escrita por Márcio Aith, diretor executivo de comunicação e marketing e principal responsável pela investigação. O trabalho culminou com a demissão por justa causa de Alan Cimerman, ex-gerente de marketing tricolor. O ex-funcionário nega as acusações.

"Em breve resumo, o Sr. Cimerman obteve ilegalmente, na conta pessoal de um familiar de primeiro grau, depósitos de pelo menos cerca de R$ 1,5 milhão", diz trecho da carta redigida por Aith e repassada por Leco aos conselheiros.

De acordo com o relato, os depósitos foram feitos por terceiros a quem Cimerman havia prometido vender ingressos e alugar camarotes para os shows do U2 e de Bruno Mars no Morumbi.

O ex-gerente, por meio de seu advogado, Daniel Bialski, nega os depósitos em conta de familiar e afirma ter documentos que compravam a lisura de seus atos.

"Os ingressos prometidos pelo Sr. Cimerman seriam desviados de lotes de ingressos de cortesia habitualmente entregues ao SPFC pela produção de shows", diz o diretor executivo em outro trecho de sua mensagem. Os camarotes que teriam sido oferecidos pertencem ao clube. E os tíquetes de cortesia só serão recebidos pelo São Paulo em meados de setembro.

Ainda de acordo com a explicação de Aith ao presidente, o ex-gerente planejava forçar o clube a assinar com uma empresa intermediária contrato de cessão de nove camarotes por R$ 189 mil. Também está escrito na carta que os mesmos camarotes seriam sublocados a terceiros por valores exorbitantes. "Depósitos antecipados chegaram a ser feitos em uma conta pertencente a uma parente do Sr. Cimerman", relata Aith na carta.

As denúncias agora estão sendo investigadas pelo DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais), que apura se houve estelionato, falsificação de documentos, apropriação indébita e associação para o crime.

Por sua vez, Cimerman, ao homologar a rescisão contratual, fez a ressalva de que não concorda com a demissão por justa causa e deixou o caminho aberto para cobrar direitos trabalhistas na Justiça.

Abaixo, veja na íntegra a carta enviada por Aith para Leco.

 

 

"Ao Ilustrí­ssimo Senhor Carlos Augusto de Barros e Silva, Presidente da Diretoria Executiva do São Paulo Futebol Clube
 
Transmito a V.S.Aª os fatos abaixo descritos, apurados pela Diretoria Executiva de Comunicação e Marketing do SPFC, que levaram a direção de nosso
 clube a demitir, por justa causa, o Sr. Cimerman, Gerente de Marketing, bem como a solicitar a abertura de um inquérito policial no Departamento
 Estadual de Investigações Criminais – DEIC.
 
Registro, desde já, estarmos à disposição de todos os Conselheiros para prestar os esclarecimentos adicionais desejados, assim como já nos dispusemos a fazê-lo na reunião extraordinária do Conselho Deliberativo do dia 21 de Agosto de 2017.
 Importante iniciar o relato salientando que, apesar da gravidade e da publicidade dadas ao caso, o SPFC não sofreu qualquer prejuízo direto, visto que as
 práticas infracionais, embora tenham prejudicado terceiros, em benefício direto do Sr. Cimerman, puderam ser amplamente comprovadas antes de
 consumadas contra o clube.
 
 Em breve resumo, o Sr. Cimerman obteve ilegalmente, na conta pessoal de uma familiar de primeiro grau, depósitos de pelo menos cerca de R$ 1,5 milhão. Esses depósitos foram feitos por terceiros, aos quais o Sr. Cimerman prometera a "venda" de ingressos e o "aluguel" de camarotes para os shows da banda irlandesa U2 (nos dias 19, 21, 22 e 25 de outubro) e do músico norte-americano Bruno Mars (22 e 23 de novembro).
 
 Os crimes restaram provados por meio de cópias de recibos de depósitos e de conversas em áudio e texto (do aplicativo WhatsApp) exibidos espontaneamente por terceiros prejudicados à  Diretoria do SPFC, e, posteriormente, entregues ao DEIC. Nas conversas, o funcionário demitido admite ter enganado o clube, falsificado documentos e assinaturas e se beneficiado financeiramente dos atos delituosos que praticou.
 
Os ingressos prometidos pelo Sr. Cimerman seriam desviados de lotes de ingressos de cortesia habitualmente entregues ao SPFC pela produção de shows; já os espaços de camarotes oferecidos pelo ex-gerente, localizados no Estádio do Morumbi, são de propriedade do clube. Registre-se que os ingressos de cortesia, ainda não emitidos, serão entregues ao SPFC somente em meados de setembro.
 
Para atingir o seu objetivo, o Sr. Cimerman, a quem competia funcionalmente a comercialização de espaços durante eventos, planejava forçar o clube a firmar um contrato de cessão de nove camarotes, no valor de R$ 189.000,00 (cento e oitenta e nove mil reais), contrato esse entre o São Paulo Futebol Clube e uma empresa intermediária.
 
Os mesmos camarotes seriam mais tarde sublocados (com direito aos ingressos) a terceiros a valores exorbitantes. Depósitos antecipados chegaram a ser feitos em uma conta pertencente a uma integrante da família do Sr. Cimerman.
 
Como bem sabe V.S.ª, a diretoria comunicou a Presidência tão logo surgiram os primeiros indícios, e dela recebeu a orientação de apura-los até o fim, sem qualquer constrangimento nem limites pessoais. Dos demais diretores recebeu a discrição e o apoio técnico necessários para a apuração do caso – apuração esta que, agora, está a cargo do DEIC.
 
Embora reconheçam a gravidade do episódio, colaboradores, parceiros e patrocinadores do SPFC demonstraram satisfação com a pronta reação da direção do SPFC.
 
Marketing não se faz apenas por meio da promoção de bons ativos – dos quais, diga-se, o SPFC está repleto – mas, também, do combate intransigente a desvios éticos.
 
Cordialmente,
 
Marcio Aith"

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

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