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Saiba o que Odebrecht não fez ou fez errado em Itaquera segundo auditoria

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16/08/2017 11h47

Auditoria feita pelo escritório Cláudio Cunha Engenharia Consultiva afirma que a Odebrecht deixou de realizar aproximadamente R$ 151,4 milhões em obras na arena Corinthians. O estudo também avalia em cerca de R$ 63,5 milhões o que o clube precisará gastar para refazer trabalhos malfeitos pela empresa no estádio. Além desses R$ 214,9 milhões, o relatório aponta que a construtora deveria pagar multa de R$ 23 milhões por não entregar a obra no prazo combinado.

Procurada, a Odebrecht diz desconhecer o levantamento e afirma ter cumprido integralmente o contrato e seus aditivos (a resposta completa está no final do post).

Outra auditoria, feita pelo escritório de advocacia Molina & Reis, havia calculado em pelo menos cerca de R$ 200 milhões a soma dos valores de obras não executadas e que precisarão ser feitas novamente.

O novo trabalho foi entregue ao presidente corintiano, Roberto de Andrade, e repassado à comissão de conselheiros que estuda o caso. Em setembro, o Conselho Deliberativo deverá se reunir para conhecer a opinião da comissão e decidir o que vai recomendar à diretoria em relação ao imbróglio. Muitos conselheiros querem que o clube leve o caso para uma câmara de arbitragem prevista em contrato.

A auditoria aponta a drenagem como um dos pontos críticos da arena. O cálculo é de que serão necessários cerca de R$ 20 milhões para refazer trabalhos de drenagem e terraplenagem.

Por sua vez, o acabamento é responsável pela maior parte da quantia de obras que a Odebrecht teria deixado de fazer. São aproximadamente R$ 92,2 milhões.

Os auditores sugerem em seu relatório que o clube entregue o caso a especialistas das áreas financeiras e jurídicas, além de recomendar que o Corinthians monte um planejamento para fazer o que falta ou o que precisar ser refeito, mas sem a ajuda da Odebrecht. O cenário apontado como ideal é que outra construtora faça o novo serviço.

Abaixo, veja os valores referentes ao que a auditoria levantou de problemas na arena.

O que precisa ser refeito de acordo com a auditoria (valores aproximados)

Drenagem e terraplenagem – R$ 20,04 milhões

Estrutura de concreto – R$ 2,1 milhões

Acabamentos – R$ 19,14 milhões

Instalações prediais – R$ 12,1 milhões

Ar condicionado e instalações mecânicas – R$ 4,2 milhões

Acessos e estacionamentos – R$ 1,1 milhão

Cobertura – R$ 1,8 milhão

Urbanização e paisagismo – R$ 3 milhões

 

O que deixou de ser executado segundo a auditoria

Drenagem e terraplenagem – R$ 1,76 milhão

Fundações e contenções – R$ 14,89 milhões

Estrutura de concreto – R$ 254,8 mil

Acabamentos – R$ 92,25 milhões

Instalações prediais – R$ 14,9 milhões

Sistemas eletrônicos – R$  17,65 milhões

Ar condicionado e instalações mecânicas – R$ 2,1 milhões

Acesso e estacionamentos – R$ 4 milhões

Urbanização e paisagismo – R$ 3,6 milhões

O que diz a Odebrecht

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Odebrecht disse desconhecer o resultado da auditoria. Afirmou também que a Cláudio Cunha Engenharia Consultiva, responsável trabalho, não está credenciada na associação de classe que reúne os principais auditores do país (abaixo leia a resposta da empresa).

A construtora também declara ter cumprido rigorosamente o contrato e seus aditivos para a construção da arena limitando em R$ 985 milhões o valor da obra, conforme acordado entre as partes. Diz também que pode comprovar que as obras não executadas foram compensadas por outras pedidas pelo Corinthians e que seriam mais importantes na visão do clube a fim de não estourar o valor de R$ 985 milhões.

Alega ainda que entidades independentes atestaram o avanço físico da obra e que possui completo material comprobatório do investimento que fez na arena corintiana. Segundo a Odebrecht, o estádio alvinegro tem um dos mais baixos custos por metro quadrado entre os construídos para a Copa de 2014.

Por fim, a construtora diz que sugeriu ao fundo responsável pela arena a contratação de uma grande empresa especializada para auditar a construção. Oderecht e Corinthians integram o fundo.

Resposta da Cláudio Cunha Engenharia Consultiva

Cláudio Cunha, que empresa seu nome à empresa responsável pela auditoria, foi ouvido pelo blog após a Odebrecht afirmar que seu escritório não faz parte de associação que reúne os principais auditores do país.

"Sou profissional registrado no CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e não preciso fazer parte de todas as associações da classe do país para exercer meu trabalho. A auditoria foi feita com a participação de ouras oito empresas especializadas nas diferentes disciplinas relacionadas à obra. É isso que a Odebrecht deveria ter feito, colocado especialistas independentes para fiscalizar os trabalhos mensalmente. Se tivesse feito isso, a obra não teria os problemas que tem. Ela pode contratar uma auditoria da confiança dela para ver se não vão concordar com nosso trabalho. Nós fomos escolhidos porque, além da nossa experiência, não temos nenhum vínculo com a Odebrecht", afirmou Cunha.

Ele se recusou a dar entrevista sobre dados da auditoria obtidos pelo blog, alegando confidencialidade do trabalho.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.