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Seis questões que precisam ser explicadas no 'caso Nuzman'

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08/10/2017 11h31

No documento em que pediu a prisão temporária de Carlos Arthur Nuzman e de Leonardo Gryner, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro aponta uma série de questões que precisam ser explicadas pelos acusados de participar de compra de votos africanos para o Rio sediar os Jogos Olímpicos de 2016, entre outras irregularidades. O blog não conseguiu localizar os defensores dos dirigentes, que negam o ato de corrupção.

Abaixo, leia os principais pontos que precisam ser esclarecidos pelo agora presidente licenciado do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e do Comitê Organizador da Rio-2016 e pelo ex-diretor de operações do órgão responsável pela Olimpíada no Brasil.

1 – Por que Papa Diack, filho do presidente da Federação Internacional de Atletismo mandou e-mails para o COB cobrando depósito de US$ 450 mil?

Nuzman e Gryner não admitem o pagamento de propina para membros africanos do COI (Comitê Olímpico Internacional) votarem no Rio como sede dos Jogos de 2016. Porém, e-mails obtidos pelo Ministério Público Federal mostram que Papa cobrou US$ 450 mil como complemento de um acordo entre as partes e cita "nosso comprometimento em Copenhague", local da votação que escolheu a sede olímpica. Em depoimento, Gryner afirmou que conversou com Papa sobre a realização de eventos da Federação Internacional de Atletismo no Brasil, mas nenhum chegou a ser realizado. Só que a troca de e-mails dá a entender que parte do pagamento foi feita. Se não houve competição organizada pela entidade internacional de atletismo em terras brasileiras após a negociação, por que o dinheiro foi dado?  Por que Papa cobrou o depósito em conta pessoal, mas não da Federação Internacional de Atletismo? Segundo a acusação, foram pagos US$ 2 milhões pelos votos por empresa de Arthur Soares, que fechou vários contratos para obras no Rio.

2 – Por que prestadora de serviços para o Comitê Organizador da Rio-2016  fez pagamentos para a entidade?

Planilha apreendida no COB mostra que diversos contratos foram firmados entre a empresa Massan Serviços Especializados e o Comitê Organizador dos Jogos no Rio. Eram trabalhos de hospitalidade, alimentação, limpeza, manutenção predial, instalação de caixas em lanchonetes e de segurança em áreas específicas. Na planilha há espaços para a identificação do processo de escolha da contratada, mas todos estão em branco. Também chamou a atenção dos procuradores o fato de a Massan ter feito depósitos para o comitê. Foram pagos R$ 180,3 mil. "Ocorre que a contratada deveria receber valores, não efetuar pagamentos", diz o MPF em trecho do pedido de prisão temporária de Nuzman e Gryner. O documento registra ainda que é necessário aprofundar as investigações sobre esses pagamentos.

3 – Por que o Comitê Organizador da Rio-2016 aceitou receber de volta 30% a menos do que pagou por reservas em hotel que não foi construído?

A LSH Barra Empreendimentos Imobiliários recebeu do comitê cerca de R$ 3,8 milhões a título de reservas no Trump Hotel, que seria inaugurado a tempo de ser usado na Olimpíada. Porém, o hotel não ficou pronto e a entidade presidida por Nuzman aceitou dar um desconto de 30% na dívida, além de não cobrar multa da parceira. Documento sobre a devolução do dinheiro diz que o desconto tem o objetivo de acelerar o recebimento do montante. O argumento, no entanto, não convenceu os procuradores. A LSH tem como um de seus sócios Arthur Soares, que segundo o MPF lucrou irregularmente com obras no Rio tendo a ajuda do ex-governador Sérgio Cabral.

4 – Como Nuzman enriqueceu?

De acordo com relatório conseguido pelo Ministério Público Federal a partir da quebra de sigilo fiscal de Nuzman, o dirigente dobrou seu patrimônio em 2014. Naquele ano, houve aumento de aproximadamente R$ 4,2 milhões, sendo que R$ 3,8 milhões são referentes a ações de companhia sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, famoso paraíso fiscal. Segundo o documento, as declarações de renda do cartola não registram remuneração recebida por meio do COB ou do Comitê Organizador da Rio-2016. Os ganhos são justificados por Nuzman com recebimentos de pessoas físicas e do exterior, porém não há explicações sobre quem o remunerou, conforme dizem os procuradores.

5 – Por que barras de ouro só foram declaradas após operação da Polícia Federal?

O Ministério Público Federal afirma que Nuzman só retificou sua declaração de imposto de renda para informar possuir 16 barras de ouro de um quilo cada na Suíça depois de apreensão de documentos em sua casa que poderiam servir como mapa para encontrar o tesouro secreto. Para o MPF, a correção foi feita por que o cartola sabia que seus pertences apreendidos poderiam levar até ouro. Assim, tentou legalizar as valiosas barras. Mas os procuradores apontam que na retificação não foram registrados ganhos que justificassem a reluzente aquisição.

6 – Por que Nuzman paga parte considerável de suas contas em dinheiro?

Segundo o MPF, documentos apreendidos na casa do dirigente mostram que grande parte de suas contas é paga em espécie. Os procuradores classificam o hábito como um "engendro característico do sistema de lavagem de capitais".

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.