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Após fala de cartola da FPF, dirigentes 'enterram' nota de apoio a Del Nero

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11/01/2018 09h53

Durante reunião do Sindicato do Futebol na última segunda, em São Paulo, foi discutida por dirigentes a elaboração de um manifesto de apoio a Marco Polo Del Nero, suspenso pela Fifa. A ideia, porém, foi abandonada após Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista, apontar que a iniciativa só serviria para dar mais destaque às acusações contra o dirigente. A interpretação é de que seria um desgaste desnecessário.

Os cartolas acabaram seguindo recomendação de Walter Feldman, secretário-geral da CBF, de darem entrevistas individuais demonstrando apoio e confiança que Del Nero irá reverter a situação.

Por meio do departamento de comunicação da FPF, Bastos negou que tenha sugerido a não realização do manifesto e até que tenha falado sobre o assunto durante a assembleia. Porém, o blog mantém a informação, confirmada por três participantes da reunião.

O cartola de São Paulo é considerado um dos favoritos numa eventual eleição na confederação sem Marco Polo. Porém, os dirigentes ouvidos sobre o episódio disseram que o discurso dele não teve tom eleitoral, mas de preocupação em preservar a imagem do colega. Em nenhum momento, Bastos atacou o presidente punido.

O presidente da CBF foi suspenso preventivamente por 90 dias pela Fifa por conta de denúncias feitas durante o julgamento de José Maria Marin em Nova York. Ele é acusado de receber propinas em negociações de direitos de transmissões de jogos pela TV, mas alega inocência.

Rebeldia

A situação de Marco Polo começou a ser debatida pelo sindicato a partir de críticas à Fifa feitas por Zeca Xaud, longevo presidente da Federação Roraimense. Ele sugeriu que a CBF se rebelasse e não aceitasse a suspensão. Classificou a atitude da entidade internacional como covarde.

Em seguida, José Vanildo da Silva, presidente da federação do Rio Grande do Norte, disse que os representantes das entidades estaduais estavam desinformados e que Feldman seria a melhor pessoa para esclarecer a situação.

Ensaio

O executivo da CBF, preocupado com a chance de jornalistas do lado de fora da sala ouvirem suas palavras por conta de uma porta aberta, tentou falar sem microfone, mas atendeu ao pedido de Mustafá Contursi, presidente do sindicato, para usar o equipamento.

Então, ele disse que Del Nero está tranquilo, confiante de que vai voltar ao cargo e que pediu um discurso de união aos cartolas. Na sequência, Feldman sugeriu que quando fossem abordados pela imprensa os dirigentes demonstrassem confiança em Marco Polo. A maioria abordada pelos jornalistas depois da reunião acatou o conselho.

Procurado pelo blog para falar sobre o episódio, Feldman não respondeu à mensagem de voz deixada em seu celular.

Todos por um

No embalo das palavras do funcionário da CBF, Marquinho Chedid, presidente do Bragantino, sugeriu que o sindicato elaborasse uma nota de apoio a Del Nero com a assinatura dos presentes. Seria uma forma de demonstrar união em torno do dirigente suspenso.

Como presidente da entidade patronal, Mustafá se manifestou. Disse apoiar Marco Polo, mas ter dúvidas sobre se o momento era adequado. O palmeirense passou a bola para o presidente da Federação Paulista, que também é representante brasileiro na Conmebol.

Bastos explicou que não acatar a decisão da Fifa seria inviável por trazer consequências drásticas. Ele também indicou não existir um movimento político na cúpula da federação internacional para derrubar Del Nero. O cartola ainda citou Mauro Carmélio, presidente da Federação Cearense de Futebol, que teria dito ser este um momento de silêncio.

Bastos argumentou que uma manifestação formal e coletiva dos dirigentes representaria oportunidade para a imprensa voltar a falar sobre as acusações contra Del Nero. Ou seja, a ação para mostrar apoio seria desastrosa por deixar de novo nos holofotes as suspeitas contra o presidente da CBF.

Ele também sustentou que a melhor postura, como havia sugerido Feldman, era a defesa individual feita pelos representantes das federações sempre que indagados sobre o tema.

Pouco depois, cartolas davam entrevistas esbanjando confiança e solidariedade a Del Nero, apesar de enterrarem a ideia de um manifesto de apoio coletivo.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.