Manobra de Del Nero deixa em xeque estilo discreto de presidente da FPF
Parte dos opositores de Marco Polo Del Nero e dos cartolas que não querem Rogério Caboclo, diretor-executivo de gestão da CBF, como novo comandante da entidade, tem em Reinaldo Carneiro Bastos a única esperança de ver o plano do presidente suspenso da confederação fracassar. Para viabilizar seu nome, porém o número 1 da Federação Paulista de Futebol terá que abandonar o estilo discreto característico de sua carreira e ir para a guerra aberta com Del Nero e Caboclo.
Como mostrou o blog do Rodrigo Mattos, Del Nero marcou reuniões reuniões com presidentes de federações estaduais nesta quinta e também no dia seguinte para tentar consolidar seu candidato como único na próxima eleição.
Para isso, o cartola investigado por autoridades norte-americanas e pela Fifa por suspeita de corrupção tenta obter o apoio de 21 das 27 federações para assegurar que Caboclo não tenha concorrente. Ele nega ter cometido irregularidades.
Para registrar uma chapa é preciso ter a assinatura de oito federações e de cinco clubes. Se a estratégia der certo, não sobrarão entidades estaduais suficientes para o lançamento de outra candidatura. A eleição, na qual votam federações e clubes das Séries A e B com peso maior para as entidades estaduais, pode ser marcada entre o próximo mês e abril de 2019.
Como até 15 de março a Fifa pode anunciar uma longa punição a Del Nero, o que inviabilizaria sua candidatura à reeleição, o cartola suspenso deflagrou a operação por Caboclo.
Automaticamente, o plano pressiona Bastos a definir se será candidato e a iniciar a sua campanha, entrando em conflito com Del Nero. Até cartolas que querem apoiar o presidente da FPF têm dúvidas se ele irá abandonar seu estilo de agir mais nos bastidores e ir para a trincheira.
Bastos, Del Nero e Caboclo atuaram juntos por muito tempo na Federação Paulista. A convivência faz com que conheçam os pontos fortes e, principalmente, os fracos uns dos outros. Esse cenário pode causar uma guerra fratricida, com riscos de graves danos para todas as partes.
O atual mandatário da federação paulista e Del Nero possuem uma relação de altos e baixos, mas até aqui sempre acabaram na mesma canoa. Na maioria dos momentos críticos do relacionamento, Bastos tentou evitar a briga escancarada. Esse quadro deixa cartolas interessados na sucessão em dúvida sobre qual será reação de dele, que até aqui não assumiu ser candidato.
Elementos para conquistar apoio não faltam ao presidente da FPF. Seu maior trunfo é o fato de ser o cartola brasileiro mais influente na Conmebol desde que Del Nero deixou de viajar para driblar o risco de prisão. Essa influência interessa especialmente aos clubes. É importante para eles ter bom relacionamento com um dirigente que pode, por exemplo, abrir portas para suas reivindicações em momentos decisivos da Libertadores.
Do outro lado da balança, Caboclo tem a máquina a seu favor, o que pesa principalmente para as federações. Ele já tinha sido anunciado como idealizador do projeto de convidar todos os dirigentes de entidades estaduais para viajarem até a Rússia a fim de acompanharem a Copa do Mundo.
Uma das primeiras declarações públicas após Del Nero colocar seu plano em marcha foi de Andrés Sanchez, que chamou a manobra de golpe e conclamou os clubes para definirem um nome de consenso. O presidente do Corinthians é aliado político de Bastos. Naturalmente, sua fala soa como um incentivo ao lançamento da candidatura do amigo, que agora se vê em xeque. O chefe do futebol paulista tem pouco tempo para decidir se segue silencioso nos bastidores ou veste o uniforme e vai para o campo de batalha contra íntimos oponentes.
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