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Manobra de Del Nero vira argumento a favor de ação contra CBF

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10/03/2018 07h59

A última manobra de Marco Polo Del Nero dá mais força para ação na Justiça contra a CBF. Isso no processo em que  é requerida a anulação da mudança estatutária responsável por dar peso maior aos votos das federações nas eleições da entidade. Também é pedido o afastamento da atual diretoria. Essa é a avaliação do promotor Rodrigo Terra e do deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ).

O parlamentar fez no ano passado uma representação ao Ministério Público e, em seguida, o promotor entrou com a ação.

Na última quinta, Del Nero, suspenso preventivamente pela Fifa por suspeitas de corrupção, articulou o apoio da maioria das federações a seu preferido para sua sucessão, o diretor executivo Rogério Caboclo. Não sobraram federações disponíveis para que outro candidato consiga disputar o pleito. São necessários os apoios de oito instituições estaduais e cinco clubes. Os representantes dos times nem foram chamados para as reuniões.

Promotor e parlamentar entendem que a jogada de Del Nero reforça os argumentos de que a diretoria precisa ser afastada e a mudança estatutária anulada.

"Na ação já mostrávamos que isso podia acontecer. Agora esse episódio prova que o estatuto da CBF se transformou num chancelador da vontade de quem está no poder. Por isso, é ainda mais importante que a Justiça tome uma posição rapidamente", declarou Terra ao blog.

"Essa escolha do sucessor do Del Nero é a prova da prepotência da CBF. Eles não esperaram nem a Justiça decidir (sobre as novas regras para a eleição)", afirmou Leite.

A ação com pedido de liminar para o afastamento imediato dos cartolas e a suspensão dos efeitos da alteração no estatuto foi distribuída em 25 de julho de 2017, mas até agora não houve decisão.

Tempo é algo que o juiz Bruno Monteiro Ruliere não tem, caso queira evitar que a situação se complique mais ainda. Isso porque, conforme apurou o blog, a CBF pretende marcar a eleição presidencial para o próximo mês com as regras que são contestadas na Justiça. O estatuto permite que o novo presidente seja eleito agora e só tome posse no ano que vem, quando começa o novo mandato.

"Pedimos a liminar porque sabíamos que algo assim poderia acontecer. Por isso é importantíssimo que uma decisão seja tomada rapidamente", afirmou o promotor.

Marco Polo agiu num momento em que a Fifa está prestes a decidir seu futuro. Até o próximo dia 15 a entidade deve anunciar o resultado de seu julgamento. Se o cartola for banido definitivamente ou levar um longo gancho, terá a tranquilidade de saber que um dirigente obediente a ele assumirá o comando da CBF. Del Nero nega ter cometido atos de corrupção.

Caso a Justiça determine a suspensão da mudança estatutária antes da próxima eleição, os clubes passariam a ter maior poder. Antes da alteração, votavam as 27 federações e os 20 times da Série A. Todos os votos tinham o mesmo valor. A alteração colocou os 20 clubes da Série B também no colégio eleitoral. Porém, para manter as entidades estaduais com mais poder, a CBF ampliou o peso delas para 3. Os votos dos times da Série A tem peso 2. Os da Segunda Divisão possuem valor unitário. Ou seja, se todas as federações votarem em conjunto, jamais serão derrotadas.

Caso opte pela suspensão da alteração, porém, a Justiça não mudará o fato de que o acordo costurado por Del Nero coloca Caboclo como candidato único. O estatuto antigo previa o mesmo número mínimo de apoios necessários para o lançamento de chapas.

A mudança estatutária aconteceu em assembleia sem a presença dos representantes dos clubes. Alegação foi de que se tratava de uma reunião administrativa, o que dispensaria a exigência de convocação das agremiações. Terra, no entanto, entende que houve falta de transparência e consequente desrespeito ao Estatuto do Torcedor, por isso entrou com a ação. Já a CBF diz que não houve ilegalidade.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.