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Sócio de Peres pediu na Justiça participação na venda de Gabigol

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17/04/2018 04h00

Cândido Padin Neto, um dos sócios do presidente do Santos, José Carlos Peres, é o empresário que foi à Justiça para pedir 10% do dinheiro que Gabigol tinha a receber pela venda de seus direitos para a Internazionale de Milão. O caso voltou à pauta na Vila Belmiro porque o estatuto santista impede membros do comitê de gestão do clube de atuarem como empresários de jogadores ou intermediários em negociações de direitos econômicos e também de serem sócios de quem exerce tais atividades.

Neto está entre os seis sócios de Peres na Saga Talent Sports & Marketing. A empresa tem em seu contrato social entre seus objetos a "administração e o gerenciamento de carreiras de atletas profissionais e amadores" e a intermediação de negociação de direitos federativos. Ela também está habilitada para serviços na área publicitária sem necessária ligação com futebol.

No entanto, a Saga e Peres não fazem parte do processo envolvendo Gabigol. O contrato de Neto com o jogador e sua família era pessoal e não envolvia o atual presidente do Santos.

A descoberta da existência da sociedade faz com que conselheiros oposicionistas articulem um pedido de impeachment do presidente. O episódio em que Neto recorreu à Justiça para pedir parte da receita da venda de Gabigol é visto pelos mesmos cartolas como um reforço na teste de que Peres, também presidente do comitê de gestão, feriu o estatuto.

O presidente alega que a empresa nunca funcionou e que o fechamento dela já foi pedido por seu contador, mas ainda não foi oficializado por questões burocráticas.

Na ação, que envolve também os pais do jogador, Neto se apoiou num "instrumento particular de prestação de serviços de representação desportiva de atleta". E também em um contrato de cessão de participação em eventual negociação. Agora, esses dois documentos engrossam os argumentos dos opositores de que Peres teria desrespeitado o estatuto, pois um sócio do dirigente admitiu na Justiça trabalhar com ao menos um jogador.

Em setembro de 2016, decisão em primeira instância concedeu a Neto liminar determinando que o Santos depositasse em juízo 10% do que Gabigol tinha a receber pela transferência. Depois disso, o processo passou a tramitar sob sigilo, por isso não foi possível saber sua situação atual.

Há ainda outro fator que associa Peres a Gabigol. Há quem atribua ao atual presidente o fato de o atacante ter iniciado a carreira no Santos. Tal afirmação está entre as justificativas do vereador Lincoln Reis (PR) em projeto que deu o título de cidadão santista para Peres, que nasceu em Monte Azul Paulista.

"Em 2006, (Peres) trouxe para o Santos uma joia rara ainda com nove anos de idade, o craque Gabriel (Gabigol), sem nenhum custo ao clube", está escrito no projeto.

Procurado pelo blog para falar sobre o assunto envolvendo Neto e Gabigol, Peres disse apenas que o atacante veio para as categorias de base do Santos de graça. Não comentou se o envolvimento de seu sócio com o jogador fere o estatuto. O presidente ainda criticou este blogueiro rotulando o tema de sensacionalismo e achismo. O blog lembra que os fatos estão documentados no processo movido por Neto, nos dados de sua empresa na Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo) e também em projeto de decreto apresentado na Câmara Municipal de Santos.

Outro dos sócios do presidente na Saga Talent tem ligação com o clube. Ricardo Marco Crivelli foi nomeado por Peres gerente das categorias de base após atuar em diferentes gestões como observador.

Abaixo veja documentação referente ao caso.

 

Ficha cadastral de empresa em que Peres e Neto são sócios

 

 

Uma das ações de Neto contra Santos e Gabigol

 

 

  Parte do projeto de Lincoln Reis que aponta Peres como responsável por levar Gabigol ao Santos

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.