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Não é mais só Mustafá x Leila. Mudança estatutária rachou grupos políticos

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25/05/2018 04h04

Quando Maurício Galiotte foi eleito presidente do Palmeiras, em novembro de 2016,  como candidato único, o clube estava perto de uma pacificação histórica. Cerca de um ano e cinco meses depois, a calmaria não existe mais.

Primeiro, a harmonia foi quebrada pelo conflito entre Mustafá Contursi e Leila Pereira. A conselheira, dona da Crefisa e da FAM, patrocinadoras palmeirenses, levantou suspeitas de envolvimento do ex-dirigente com cambistas. O cartola negou a acusação, e o caso foi parar no Minsitério Público.

Os "mustafistas" acusaram a empresária de tentar se vingar de Contursi por ele supostamente não ter ajudado a conselheira a conseguir uma alteração estatutária para diminuir o tempo que ela precisaria para ser candidatar à presidência.

A disputa entre os dois aumentou com a proximidade da votação no conselho sobre a mudança do mandato presidencial de dois para três anos. Mustafá foi contra, e Leila, a favor. Na última segunda, a proposta pelo triênio, apoiada também por Galiotte, venceu de maneira apertada.

Não é mais um duelo

O pleito, porém, marcou o fim da polarização da briga política no Palmeiras entre Mustafá e Leila. A maioria dos grupos políticos não entrou em consenso. Houve rachas e consequentemente deserções.

O resultado é um cenário mais multifacetado do que antes e até novas desavenças pessoais entre conselheiros.

Um símbolo da fragmentação causada nos "partidos" alviverdes é o grupo "Palmeiras Responsável". Criado para combater a ideia de que a eventual mudança pudesse valer já para o próximo presidente a ser eleito em novembro, o grupo conta com pelo menos cerca de 40 integrantes de diferentes alas.

A corrente seguirá trabalhando contra a mudança aprovada no conselho, já que ela precisa ser referendada pelos sócios.

Entre os membros do movimento estão o primeiro vice-presidente, Genaro Marino, ligado a Nobre, Carlos Antonio Faedo, vice-presidente do Conselho Deliberativo, José Corona Neto, ferrenho opositor da atual gestão, o ex-vereador Nelo Rodolfo e conselheiros ligados a Mustafá, entre gente de outros "partidos".

O grupo conta ainda com integrantes da UVB (União Verde e Branca), que foi uma das principais correntes de oposição à gestão de Paulo Nobre. O caso dessa ala ilustra bem a turbulência causada pela disputa referente à última mudança estatutária. A UBV fechou apoio aos três anos com validade já na próxima gestão. Parte dos membros não concordou com a decisão.

Eleição

Publicamente, líderes do Palmeiras Responsável afirmam que seu foco é só a decisão sobre a atual proposta de mudança estatutária. Mas há membros de peso no grupo que fazem planos mais ousados. Planejam que o movimento se torne um forte grupo de oposição a Galiotte e Leila com objetivo de lançar candidato no próximo pleito.

Existe também o pensamento de que é possível equilibrar a disputa financeira com Leila unindo forças.

O principal argumento da nova ala é de que a alteração não pode favorecer o presidente que está atualmente no poder e trabalha pela mudança. Galiotte pretende se candidatar em novembro. Assim o grupo entende que a mudança só deveria valer para a gestão seguinte à próxima.

O novo formato também é visto por eles com uma forma de favorecer Leila. Se o próximo mandato for novamente de dois anos, ela ainda não poderá ser candidata ao final dele por não ter o tempo mínimo exigido como conselheira. Mas, se for uma gestão de três anos, a empresária estará apta a se candidatar. E caso Galiotte seja o presidente, ela deve ser candidata da situação.

Os líderes do Palmeiras Responsável torcem o nariz para o fato de a patrocinadora ter oferecido jantares em restaurantes luxuosos e convidado conselheiros para irem aos jogos do Palmeiras fora de casa em seu jato. Em pelo menos uma das ocasiões, os agraciados se encontraram com Galiotte.

"A atual diretoria executiva extrapolou os limites no convencimento aos conselheiros indecisos. Respeitamos e compreendemos o jogo político, mas um olhar mais atento evidencia que os instrumentos utilizados foram muito além do debate", diz trecho de manifesto divulgado nesta quinta pelo Palmeiras Responsável.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.