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Sem filtro: Leila usa meio bi gasto para rebater ‘cardeais’ palmeirenses

Perrone

07/08/2018 04h00

Ata de reunião do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização do Palmeiras) em 7 de maio de 2018 registra sem filtros como Leila Pereira se relacionou na ocasião com dirigentes influentes.

O documento mostra que a poderosa patrocinadora faz questão de lembrar os cartolas sobre quanto dinheiro ela colocou no clube (meio bilhão de reais até agora, segundo disse no encontro).

A dona da Crefisa e da FAM fala de forma dura com alguns dos mais tradicionais conselheiros alviverdes. Chega a pedir que um deles afirme por escrito que quer a saída da patrocinadora e se responsabilize por encontrar outro patrocinador do mesmo porte.

Por mais de uma vez, a empresária cutuca os "cofistas" com a possibilidade de retirar o patrocínio, pelo qual diz pagar três vezes mais do que o valor de mercado.

O  relatório sobre o encontro mostra uma patrocinadora e conselheira sem papas na língua, firme no propósito de não aceitar negociar mudanças pedidas pelo COF no adendo contratual assinado por Crefisa e Palmeiras. O resultado da falta de sintonia entre as partes é o presidente do clube, Maurício Galiotte, presente à sessão, ficar ensanduichado entre as recomendações do COF e as exigências da patrocinadora.

A reunião extraordinária foi marcada para Leila explicar as alterações no acordo que não são aceitas pelo órgão.

Um dos momentos mais tensos ocorreu num embate entre a patrocinadora e Mário Kaminksi, relator do COF. Ele sugere que as partes busquem um meio termo. Depois diz que houve um equívoco contábil por parte do contador da Crefisa e que o Palmeiras não pode pagar pelo engano.

Leila nega o equívoco e emenda: "o que a gente pode fazer também, pode ser uma boa coisa com esse meio bilhão de reais que (a Crefisa) já colocou no Palmeiras, o senhor deve entender de números, foi isso, já está mais do que pago, ou também o senhor pode me dar uma solução. Se não fosse dessa forma, o patrocinador teria que sair. O senhor poderia dar uma carta dizendo: 'olha, o patrocinador saia, e eu me responsabilizo a trazer outro patrocinador do mesmo porte'. É isso que entendo. É um problema político para desgastar o patrocinador com o clube".

Kaminski rebate afirmando que o COF só trata de questões técnicas. Leila, então, resolve lembrar o relator sobre com quem ele está falando: "não é técnico. Se fosse técnico, você tem que analisar tudo como um todo. O senhor está falando aqui com uma pessoa que coloca uma fortuna dentro do clube que jamais ninguém colocou e nem arrumou quem colocasse."

O relator então respondeu que está muito satisfeito com o patrocínio e que não pode misturá-lo com o tema da alteração contratual. Leila retrucou afirmando que é o mesmo assunto e, em seguida, voltou a pressionar os "cofistas": "… se alguém aqui, por favor, estiver descontente com esse patrocínio me fale aqui, agora, que está descontente, mas a pessoa vai ter que arrumar alguém que paga o que eu pago para ter responsabilidade com o clube".

 

Outra batida de frente da empresária foi com Gilberto Cipullo, um dos "cardeais" palmeirenses. O dirigente disse que a Crefisa poderia ter recorrido da multa aplicada pela Receita Federal. O órgão entendeu que o contrato que envolve o programa de sócio-torcedor do clube e gerou receita para compras de jogadores é empréstimo e não patrocínio. A patrocinadora, então, pediu a mudança contratual para evitar novas punições.

De novo, Leila contra-atacou apontando para o bolso dos cartolas. "Quando você disse que era defensável, vocês me dão um documento dizendo que venceríamos no CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) ou na Justiça. Era complicadíssimo para a Crefisa ter uma (nova) autuação de mais de R$ 200 milhões. Discute isso na Justiça. Se alguém der uma garantia de que se perder paga para a Crefisa… Ou seja, se alguém me desse essa garantia, pois ninguém dá…", afirmou a empresária.

Além da língua afiada, Leila exaltou o patrocínio, por algumas vezes na reunião, e repetiu que paga mais do que o valor de mercado do espaço publicitário na camisa palmeirense.

"Não é um patrocínio, é uma parceria, se fosse um patrocínio não pagaria três vezes mais do que o valor que um clube da grandeza do Palmeiras recebe. Hoje, (a parceira) colocou por volta de R$ 100 milhões no Palmeiras, sendo que nesse período em que está no Palmeiras já colocou praticamente R$ 500 milhões no clube, com o único intuito de colaborar", disse a empresária. Ela avalia em R$ 30 milhões anuais o valor de mercado do patrocínio no uniforme alviverde.

O imbróglio envolvendo COF, Galiotte e Crefisa começou depois que a empresa foi multada pela Receita Federal. Por conta da multa o contrato referente ao programa de sócio-torcedor passou a prever que o clube devolva obrigatoriamente integralmente todo dinheiro investido pela empresa. Antes, a devolução integral só aconteceria se os jogadores contratados fossem vendidos por pelo menos o mesmo valor. Em caso de prejuízo, ele seria só da parceira. O lucro continua podendo ficar com o clube.

O COF avalia que o acordo pode dar prejuízo para o Palmeiras e aponta que não poderia ter sido assinado sem passar pelo órgão, entre outras supostas irregularidades. A diretoria nega existirem falhas. E Leila assegurou ao COF que o Palmeiras não terá prejuízo.

Ao conselho de orientação, a patrocinadora declarou que a multa foi resultado de "uma denúncia sórdida que sofreram aqui de dentro do clube", de acordo com trecho da ata que relata a fala da empresária.

Abaixo, leia nota enviada pela presidente da Crefisa ao blog, por meio de sua assessoria de imprensa, ao ser indagada sobre determinados pontos da reunião.

"Eu nunca disse que sairia do clube, o que eu disse é que determinadas pessoas da oposição insistem em atacar o patrocinador do Palmeiras e o que desejo saber é se eles terão a responsabilidade de colocar um outro patrocínio, com os mesmo valores para contribuir com o Palmeiras.

Eu disse também que pagamos um valor maior que o mercado (se o senhor tiver boa vontade verá que isso é um fato), mas aqui quero destacar que o Palmeiras para mim vale muito, vale minha paixão e orgulho que tenho do clube, da sua história e dos milhões de torcedores que verdadeiramente são os responsáveis pelo gigantismo do Palmeiras.

O senhor Cipullo nessa reunião se intitulou um grande advogado tributarista e que entendia que a Crefisa poderia recorrer da multa (esse foi um dos assuntos colocados na reunião) e eu respondi a ele, Cipullo, já que o senhor se diz um grande advogado tributarista e tem certeza que irá vencer, eu contrato o senhor, porém se eu perder o senhor paga. Porque é muito fácil o senhor ficar sentado aqui na cadeira, em uma reunião, e falar que há certeza de uma vitória na justiça com uma multa milionária em jogo e se perder eu pago a conta.

Eu quero deixar claro, tem gente que não me quer, um patrocinador forte no Palmeiras, eles querem que eu saia, não sou eu quem desejo sair".

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.