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Opinião: VAR falha por não reduzir pressão no juiz e poder de interpretação

Perrone

18/10/2018 14h37

O uso do VAR na finalíssima da Copa do Brasil entre Corinthians e Cruzeiro, nesta quarta (17), foi tão vergonhoso que parece obra de quem é contra a tecnologia com o objetivo de descartá-la.

Porém, na verdade, é reflexo do fato de a novidade não explorar os principais benefícios que poderia trazer para o futebol. São eles: acabar com a pressão de jogadores sobre os árbitros e reduzir o poder de interpretação dos juízes.

Tanto no pênalti marcado contra o Cruzeiro, como no golaço de Pedrinho, Wagner do Nascimento Magalhães foi pressionado por atletas para consultar o VAR. Em seguida, com a cabeça cheia de argumentos despejados pelos jogadores, foi interpretar o lance no vídeo. E interpretou de maneira errada nas duas ocasiões.

Ou seja, a vantagem da precisão e da frieza que a tecnologia trouxe para o jogo sucumbiu diante de um juiz sujeito a pressões.

 

Nada mudou. E é difícil mudar a cultura centenária do jogador brasileiro de infernizar o árbitro. Mas dá para obter um resultado imensamente melhor. Basta buscar inspiração em outros esportes.

No vôlei e no tênis os competidores têm direito a pedir a verificação por vídeo por um determinado número de vezes. Se a reclamação faz sentido, o pedido não conta como usado. Caso a decisão do juiz não seja alterada pela tecnologia, o solicitante passa a ter um "desafio" a menos para fazer.

No caso do futebol, método semelhante diminuiria o poder da equipe de arbitragem de decidir quando o VAR deve ser acionado. Ao mesmo tempo, poderia reduzir drasticamente a pressão sobre o juiz. Já que no lugar de reclamar bastaria ao capitão do time fazer o desafio eletrônico.

Utopicamente, o ideal seria os jogadores praticamente não terem contato com o árbitro, já que não sabem se comportar. Na Fórmula 1, por exemplo, por conta das características do esporte, o piloto que infringe as regras recebe a notícia da punição por rádio depois que ela já foi tomada, sem chance de espernear.

Outras medidas de transparência poderiam ser tomadas para ajudar a salvar o olho eletrônico no futebol. Colocar nos telões dos estádios, em tempo real, o lance examinado pelo VAR é fundamental para o público ser respeitado.

Enquanto ajustes não forem feitos, o valioso recurso será apenas uma maneira teatral de manter antigos vícios. No final, o torcedor é feito de palhaço, como aconteceu com corintianos e cruzeirenses em Itaquera. Quem pagou ingresso foi lesado, mesmo que tenha sido um erro grave para cada lado. Prejudicado também foi Pedrinho. Quanto não valeria para seu futuro e evolução assinar uma pintura de gol em final de campeonato?

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.