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Opinião: Libertadores tem a final que merece

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02/12/2018 11h58

A vergonhosa final da Libertadores entre River Plate e Boca Juniors parece até ter sido encomendada para simbolizar décadas de decadência e descaso com o torneio sul-americano.

Conmebol, clubes, torcedores,  jogadores e árbitros merecem a final que têm. Foram anos valorizando a batalha campal como se fosse sinônimo de garra.

A cada edição, jogadores (claro que há exceções) estufam o peito para falar que a Libertadores é diferente, tem que ter raça, e dentro de campo vários se estapeiam.

Muitos dos juízes são molengas, demoram para expulsar brigões, perdem o controle dos jogos e cometem erros inadmissíveis, contribuindo para afundar o torneio na lama.

Parte dos torcedores colabora para o clima bélico. São chuvas de cadeiras, rojões e sinalizadores na direção de torcedores rivais. Cusparadas e uma infinidade de objetos lançados em jogadores adversários.

A Conmebol quase sempre age como a mãe que tenta minimizar os erros de seus filhos. Punições irrisórias são distribuídas aos montes a cada ano.

Basta olhar a ridícula pena dada ao River depois de seus torcedores atacarem o ônibus do Boca antes do segundo jogo da decisão deste ano. Multa de US$ 400 mil (cerca de R$ 1,5 milhão) e dois jogos em torneios promovidos pela entidade como mandante com portões fechados.

É pouco pelo estrago feito por parte dos torcedores do clube. Mas é muito perto da pena cumprida pelo Corinthians após sinalizador disparado por sua torcida matar o boliviano Kevin Espada em 2013. Depois de recorrer, o alvinegro fez só um jogo em casa com portões fechados, pagou US$ 200 mil (aproximadamente R$ 772,5 mil em valores atuais) e ainda conseguiu anular decisão que vetava seus torcedores como visitantes por 18 meses.

Tudo isso é assistido pela maioria dos dirigentes de clubes sem fazer cobranças para que a Conmebol acabe com o circo de horrores. A inércia sugere que cada um espera o momento de seu time ser favorecido pela falta de pulso da confederação sul-americana.

Uma parcela da imprensa também tem culpa no cartório por romantizar a corroída Libertadores.

De forma caprichosa, quase que toda essa corrosão foi resumida na temporada 2018. Teve praticamente de tudo. Erro grosseiro de arbitragem, como na expulsão do cruzeirense Dedé, jogador do Santos atuando suspenso, o clube sendo punido no mesmo dia em que jogaria por sua permanência na competição com a partida interrompida por falta de segurança e torcedores chilenos vandalizando a Arena Corinthians, entre outros fatos lamentáveis.

As cerejas no bolo são os acontecimentos envolvendo a decisão, com direito a adiamentos, indefinições e agendamento da final fora do continente.

Nada espelha melhor a cara da Libertadores do que tal desfecho. Ao mesmo tempo, a situação é um convite para que clubes sérios se recusem a disputar o certame, a menos que uma mudança radical aconteça. Mais fácil vexame maior rolar em 2019 do que isso acontecer.

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

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