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Treinos com esposa ajudaram Gustagol a ir de renegado a intocável

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20/02/2019 00h00

Imagem: Alan Morici/AGIF

Salvador da pátria, titular antes da hora, atleta negociável, jogador de férias treinado por sua mulher, surpresa agradável e, enfim, intocável. Em cerca de dois anos e meio, o atacante Gustavo passou por todos esses papéis até virar a sensação do Corinthians no início da atual temporada.

A relação de Gustagol com seu time do coração começou a ser rascunhada em maio de 2016. O departamento de análise de desempenho alvinegro monitorava suas atuações pelo Criciúma. Os números agradavam da comissão técnica à diretoria. Em julho, a direção alvinegra fez a primeira tentativa de contratação por telefone. Não deu certo. Um mês depois, o alvinegro decidiu negociar os atacantes Luciano e André.

O então diretor adjunto de futebol, Edu Ferrreira, partiu para Santa Catarina esperando definir a contratação de Gustagol em um dia. Por conta de outros times interessados no jovem artilheiro da Série B, foram necessários três dias em Criciúma. Pesou a vontade de Gustagol e ele desembarcou em Itaquera.

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Logo o atacante exibiu uma tatuagem sua vestindo a camisa 9 do Corinthians, ouvindo comentários no próprio clube de que exagerou por ser um profissional. As primeiras chances vieram com Cristóvão Borges, técnico de um time abalado pela saída de Tite para a seleção brasileira. No entanto as atuações foram frustrantes para torcida, cartolas e jogador. O centroavante acabou entrando na lista de atletas disponíveis para serem emprestados.

Hoje, o sentimento de gente que trabalhou com Gustagol naquela ocasião é de que sua entrada no time foi precipitada e ele acabou sendo queimado. O entendimento é de que aos 22 anos, o atacante precisava de tempo para amadurecer e sentir menos o peso da camisa. Porém, a necessidade de ter um novo atacante, aumentou a pressão sobre ele e deu no que deu. "Pela necessidade do clube, houve uma precipitação. Ele era muito jovem. E o time todo estava mal, isso não ajudou", disse ao blog Clóvis Henrique, empresário de Gustagol.

Gustavo, que não justificara o apelido de goleador, foi então emprestado para Bahia e Goiás, sem emplacar. "Ele chamou a atenção do nosso departamento de análise, que passou para o Rogério Ceni. Ele não teve dúvidas quando viu o material do Gustavo. Não demorou para conseguirmos contratar, não foi difícil porque ele estava em baixa", contou Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, relembrando instantes que antecederam o início da volta por cima do centroavante.

Salvo pelo mototáxi

Um erro bobo, porém, quase adiou a estreia de Gustagol pelo time cearense. "No primeiro jogo, ele esqueceu de levar o RG. Um mototáxi foi buscar o documento e chegou ao estádio a tempo. Já pensou se ele não joga? Marcou quatro gols na estreia", afirmou Paz, hoje fã do atacante corintiano. "Temos um grupo do Fortaleza no WhatsApp, e toda vez que ele faz um gol pelo Corinthians alguém lembra dele, comemora", disse o cartola.

Depois dos gols marcados na vitória sobre o Uniclinic por 4 a 0 pelo Campeonato Cearense, Gustagol terminou 2018 como o principal artilheiro do Brasil na temporada. Balançou as redes 30 vezes. Mesmo assim, havia muitas dúvidas no Corinthians sobre seu reaproveitamento. Tanto que a diretoria estava aberta a negociá-lo. Mas nenhuma proposta atraente apareceu. E o veredito foi de que depois do desempenho pelo Fortaleza, entrando com mais calma na equipe, ele poderia vingar.

No primeiro treino com bola veio a surpresa para membros da comissão técnica. Gustagol havia voltado das férias com preparo físico de quem já estava treinando. "A esposa dele (Mayara) é personal trainner e ajuda muito o Gustavo. Ele treinou bastante nas férias", disse o empresário do atacante corintiano.

"Acho que o mais importante para essa mudança foi ele ganhar confiança com a sequência de jogos no Fortaleza e a evolução na parte tática. Rogério mostrou a importância de marcar o adversário", analisa o presidente do clube cearense.

Em 2019, já foram seis gols em nove jogos oficiais pelo Corinthians, além de um no empate por 1 a 1 no amistoso com o Santos. Cada soco no ar, lava a alma dos que apostaram na contratação do centroavante na primeira passagem dele pelo clube e viraram alvos de críticas e chacotas.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.