Eurico foi exemplo de cartola obsoleto que volta por fracasso dos outros
A primeira vez que entrevistei Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco, morto nesta terça (12), foi na década de 90, por telefone, para o extinto "Notícias Populares". Não terminou bem. Eurico se revoltou quando de supetão perguntei: "qual a sua próxima cartada?". O homem que para mim já era sinônimo de cartola da velha guarda reagiu aos berros: "que cartada? Eu não dou cartada".
Foi apenas a primeira de várias passagens marcantes de Eurico pra mim. As entrevistas com ele iam dos coices à gozação, passando pela ironia. Ouvi coisas do tipo: "o que vou fazer aí em São Paulo, nem a comida aí é boa".
Mesmo quando ele perdeu o poder, após anos como presidente do Vasco, era impossível não associar sua imagem ao clube de São Januário. Tanto que logo após o time ser rebaixado, em 2008, telefonei para ele para fazer uma entrevista para a "Folha de S.Paulo". "Se eu tivesse continuado na presidência, o Vasco não teria caído", afirmou ele com convicção. Perguntei "por que" e a resposta foi a seguinte: "não teria caído, você conhece meus métodos, não me faça explicar."
Não tomei aquilo como uma confissão de que ele teria feito algo ilegal para evitar o rebaixamento, mas que ele lutaria nos bastidores contra o descenso. Em 2015, no entanto, o Vasco viria a ser rebaixado com Euricão na presidência.
Antes, em 2000, eu havia topado com Eurico ao entrar no gramado do Parque Antarctica depois da final da Copa Mercosul. Enlouquecido, ele puxava o grito de guerra do clube, após histórica virada em cima do Palmeiras que terminou com vitória vascaína por 4 a 3 acompanhada do título do torneio.
Mas, a cena que mais define o que foi Eurico como dirigente pra mim é dele no gramado de São Januário, em 2000, retirando vítimas da queda de parte do alambrado na final da Copa João Havelange (Campeonato Brasileiro) contra o São Caetano. "Consegue andar, então levanta e vai ser atendido lá fora (do campo)", dizia ele para um torcedor caído no gramado. O cartola queria na marra que o jogo continuasse, o que não aconteceu.
O ex-presidente do Vasco era assim. Queria fazer até na marra o que achava ser melhor para seu clube. Não ligava para o que os outros pensavam, era hábil com o regulamento embaixo do braço, atropelava seus adversários e ignorava praticamente a todos que o acusassem de falta de ética. Era a imagem bem esculpida do cartola antigo, amador, que não tem mais espaço no futebol que pretende ser moderno e transparente, mas que resiste e volta à cena graças à incompetência de seus sucessores. Basta lembrar de Roberto Dinamite como presidente do Vasco.
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