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Opinião: CBF trata Neymar como menino ao falar de acusação com pai dele

Perrone

05/06/2019 04h00

"Informei ao pai do atleta que essa assessoria jurídica está aqui para centralizar as informações e, a partir daí, tentar resolver o caso o mais rápido possível pra ele poder ter a cabeça tranquila e seguir na Copa América".

A afirmação parece ter saído da boca de um dirigente para falar de atleta das categorias de base com problemas. Mas foi feita recentemente por Edu Gaspar em referência à acusação de estupro contra Neymar, 27 anos,  que nega ter cometido o crime contra uma brasileira em Paris.

O coordenador não é o único a cuidar do caso com o pai do acusado. Ao dizer que confia em Neymar, Rogério Caboclo, presidente da CBF, também declarou estar conversando com o pai do astro da seleção brasileira sobre o assunto delicado.

Na opinião deste blogueiro, os dois episódios mostram que a CBF ainda trata quem deveria ser o principal jogador do time nacional como um jovem aprendiz.

Ou será que se fosse outro jogador metido nessa confusão a confederação trataria do tema com o pai dele ou com o empresário? Lembrando que Neymar pai agencia o filho.

Você que tem a partir de 27 anos acha que seus patrões iriam conversar com seu pai sobre um problema particular que o afetasse? Difícil a resposta ser positiva.

O que Edu e Caboclo parecem não enxergar é que o jogador que deveria ser o líder da seleção brasileira por sua reserva técnica não pode ser tratado como um adolescente sob a tutela do pai. Aliás, nenhum dos atletas de Tite merece ser encarado dessa forma.

Com Neymar é pior por conta do que se espera dele dentro de campo. Até outro dia ele era o capitão da seleção. Como vai comandar o time se na hora do aperto seus chefes precisam lidar com seu pai.

Pra mim, isso é uma proteção exagerada, maléfica e diferenciada dispensada a Neymar. No ambiente da seleção, ele e qualquer jogador, tem que cuidar sozinho de suas coisas. Seu pai não deveria ser interlocutor da entidade. Ele não pode ser personagem da equipe brasileira.

Esse tipo de atitude atrapalha o processo de amadurecimento de Neymar. E mostra que a CBF ainda não entendeu que tratá-lo como eterno menino é ruim para ele e para a seleção.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.