Opinião: exposição de Bolsonaro na Copa América e com Neymar é desastrosa
Na opinião deste blogueiro, a proximidade exagerada com o presidente Jair Bolsonaro traz mais malefícios do que benefícios, pelo menos a curto prazo, para Conmebol, CBF e Neymar. Chega a ser desastrosa.
Começando pelo atacante, Cosme Araújo, advogado de Najila Trindade, que o acusa de estupro, reclama que a aparição pública do jogador ao lado do presidente na semifinal da Copa América foi uma forma de blindagem ao astro do PSG. E as demonstrações de proximidade entre eles têm sido frequentes.
Na prática o que Neymar ganha com isso? Pra mim nada além de dar brecha para dizerem que mostrar ter amizade com o presidente do Brasil é uma demonstração de poder no momento em que enfrenta uma acusação delicada. Claro que ele tem o direito de se relacionar e aparecer em público com quem quiser. Mas poderia entender melhor o momento e se preservar.
Em termos de Conmebol e CBF a resposta sobre os efeitos negativos da exposição exagerada de Bolsonaro na Copa América foi dada pela AFA. A federação argentina enviou carta para a entidade sul-americana reclamando da arbitragem na derrota por 2 a 0 para o Brasil, mas também de que teria havido manifestação política vetada até pela Fifa com a meia volta olímpica dada por Bolsonaro no gramado durante o intervalo do jogo.
E os argentinos têm autoridade para falar sobre os constrangimentos que podem causar o fato de o presidente de um país não se limitar às tribunas do estádio em um jogo decisivo. O livro "Fomos Campeões", do argentino Ricardo Gotta, diz que antes do jogo entre Argentina e Peru, na Copa de 1978, o general Videla, que comandava uma sangrenta ditatura no país sede do Mundial, foi ao vestiário dos peruanos. Lá discursou sobre a solidariedade entre os dois países. A Argentina precisava vencer por pelo menos quatro gols de diferença. Ganhou de 6 a 0 e tirou o Brasil da decisão, sendo campeã na final contra a Holanda.
Claro que há uma enorme diferença entre os gestos dos militares Videla e Bolsonaro. Porém, foi aberta a porta para os argentinos, eliminados pelo Brasil, reclamarem. Foi desnecessário. A voltinha ao redor do campo não vai fazer Bolsonaro ser mais popular entre os eleitores brasileiros. E nem representou alguma vantagem para a CBF ou para a Conmebol. Não de imediato, sei lá o que podem tentar costurar no futuro. Muito menos para a Copa América, que ganhou um item a mais na relação de queixas contra sua organização.
Teria sido melhor para todas as partes que Bolsonaro se limitasse a um comportamento institucional, como tantos presidentes em competições recebidas por seus países. Quase sempre eles se restringem à presença protocolar nas tribunas dos locais de competição.
Para o capitão também não vejo benefícios ao misturar sua imagem com a Copa América, torneio que tem sua organização tão criticada. E ainda mais depois de tantos casos sinistros envolvendo políticos e grandes eventos esportivos no país nos últimos anos. Se todos os envolvidos pararem para pensar, teremos uma presença mais discreta de Bolsonaro no Maracanã, se ele aparecer na final entre Brasil e Peru neste domingo (7).
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