Proposta de mudança estatutária no Palmeiras ameaça poder de Mustafá no COF
A comissão que estuda mudanças estatutárias no Palmeiras preparou uma proposta que ameaça o poder de Mustafá Contursi no COF (Conselho de Orientação e Fiscalização), apesar de sustentar não ser essa a motivação. A sugestão é para que os ex-presidentes do clube percam o direito a voto no órgão, a menos que sejam eleitos para o cargo.
Atualmente, quem passou pela presidência se transforma em membro nato do COF, com direito a voto. A ideia é que essa vaga automática seja extinta e que os ex-mandatários participem das reuniões, emitam opiniões, mas não possam votar. Se quiserem atuar nas votações no órgão, terão que disputar o pleito no Conselho Deliberativo.
Para aliados de Contursi, a medida visa o enfraquecimento dele, já que o órgão é seu principal reduto entre os poderes da agremiação. Defensores da transformação negam esse objetivo. Além do próprio Mustafá, se novidade for aprovada pelo Conselho Deliberativo e pelos sócios, Arnaldo Tirone, Affonso Della Monica Neto e Carlos Bernardo Facchina Nunes, mais próximos de Contursi, perderão o direito a voto. Assim como Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, alinhado ao presidente Maurício Galiotte, e Paulo Nobre, afastado das decisões políticas.
O blog telefonou para Mustafá para saber a opinião dele sobre a proposta, mas as ligações não foram atendidas. Defensores apontam a democratização do órgão como um dos principais objetivos, embora parte deles admita que um possível reflexo será o enfraquecimento de Mustafá. Mas ressaltam que, se o novo formato for confirmado, Contursi e seus aliados poderão se candidatar.
Membro da comissão e que apoia a ideia disse ao blog, sob a condição de anonimato, que o entendimento é de que os ex-presidentes podem ser consultivos, mas sem direito a voto, já que não foram eleitos pelo Conselho Deliberativo como os demais integrantes. Assim, se o ex-cartola quiser votar, precisa encarar as urnas. O modelo atual é considerado injusto. Situacionista, ele afirmou que a iniciativa não pode ser considerada obra da situação já que a maioria do grupo, que tem gente da oposição, a aprovou.
Um dos argumentos dos que defendem a mudança é o de que parte dos ex-presidentes não vai à maioria das reuniões do COF e só aparece em votações importantes. Isso daria mais peso político ao um órgão que deve orientar e fiscalizar. Vale lembrar que, antes da atual composição do órgão, o COF, liderado por Mustafá, travou uma guerra com Galiotte não aprovando as contas de sua gestão por discordar da maneira como foram feitas mudanças no contrato de patrocínio com a Crefisa. Outro ponto é que seria preciso dar o lugar de quem não vai a todos os encontros para quem está disposto a comparecer.
O ex-presidente Belluzzo concorda com o argumento de que a alteração democratizaria mais o órgão. "Sou favorável à essa proposta. Não acho que seja muito democrático o ex-presidente poder votar sem ter sido eleito. O modelo atual consolida uma situação de reverência aos ex-presidentes que não é devida. Os ex-presidentes devem ser respeitados, não reverenciados. Você vai cristalizando uma situação de poder do ex-presidente. A experiência não tem sido boa porque suscita comportamentos inadequados", declarou o ex-presidente.
Belluzzo discorda da tese de que um dos objetivos da mudança seja minar o poder de Mustafá no COF. "Não acho que seja isso, mas ele não deveria buscar o poder. O ex-presidente não pode ficar no casco do navio como se fosse craca", disse. Ele ainda sugeriu que seja criado um conselho consultivo com os conselheiros que já passaram pela presidência do Palmeiras.
"Pra mim não tem importância, já fiz minha obrigação como presidente do clube. Mas acho que está errado. Convenhamos, os ex-presidentes são bem mais experientes. É uma forma de afastar os que já prestaram serviços ao clube. Tem acontecido frequentemente, estou aborrecido com as coisas como são hoje em dia no futebol, sou de outro tempo, não tenho ido ao COF", disse Facchina.
O blog não conseguiu falar com Galiotte sobre o tema, mas apurou que ele é favorável à ideia por considerar que a troca vai democratizar o COF e fortalecer o Conselho Deliberativo, algo que tem buscado em sua gestão. O cartola também não vê motivação política na proposta.
Para sustentar que o objetivo não é minar Mustafá, situacionistas lembram que o atual presidente também seria afetado pela alteração. E afirmam que hoje o COF está equilibrado entre oposição e situação. Porém, o presidente, Tommaso Mancini, é apoiador do grupo de Galiotte.
Atualmente, o Conselho de Orientação e Fiscalização tem 15 membros eleitos para mandatos de dois anos. A ideia é que que haja um período de transição. A comissão ainda precisa aprovar o texto final, que será apresentado aos conselheiros. Para o estatuto ser alterado são necessárias aprovações do Conselho Deliberativo e dos associados. O processo todo deve levar cerca de três meses. Para se candidatar é preciso ter sido conselheiro por pelo menos oito anos.
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