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Finanças, política e arena. Como crise ameaça Corinthians fora de campo

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05/11/2019 04h00

Os maus resultados do Corinthians em campo ameaçam também o clube fora dos gramados. Abaixo veja os reflexos que já são sentidos e que ainda podem acontecer em outras áreas por conta da má fase do time.

Finanças

A crise técnica afeta diretamente as finanças do clube. O principal exemplo é o risco de o Corinthians ficar fora da Libertadores do ano que vem. Seria o segundo ano seguido de ausência na competição, o que significa ficar sem importantes receitas de premiação e bilheteria.

Em 2019, só a disputa da fase de grupos da badalada competição rendeu prêmio de US$ 1 milhão (cerca de R$ 3,9 milhões) por partida como mandante. Foram aproximadamente R$ 11,9 milhões para cada time que disputou essa etapa.

Porém, mesmo que a equipe se recupere após a demissão de Fábio Carille, a má fase já fez estragos nos cofres alvinegros. O mais sentido é a perda de receita com a eliminação nas semifinais da Copa Sul-Americana diante do Independiente del Valle. A queda fez com que o Corinthians deixasse de faturar pelo menos US$ 2 milhões (por volta de R$ 7,9 milhões), valor oferecido ao vice-campeão. A conquista do título vale o dobro. Não é perder tempo lembrar que o alvinegro enfrenta série crise financeira.

Arena

Imediatamente, a atual fase deve provocar uma queda nas arrecadações dos jogos da equipe na sequência do Brasileirão. É natural que o público diminua após a derrota por 4 a 1 para o Flamengo, no último domingo (3) e a sequência de oito jogos sem vencer.

A receita líquida obtida com a venda de entradas obrigatoriamente é usada para pagar a dívida com a Caixa pelo financiamento de R$ 400 milhões junto ao BNDES para serem usados na construção da Arena Corinthians. Rendas menores complicam ainda mais a situação.

Neste momento, clube e banco negociam um acordo para colocar fim na execução judicial feita pela Caixa. A instituição financeira alega que o fundo responsável pelo estádio, ligado à agremiação e à construtora Odebrecht, deixou de pagar mensalidades. Assim, no seu entendimento, descumpriu o contrato permitindo a cobrança imediata de R$ 536 milhões.

A eventual falta de jogos pela Libertadores em 2020, caso a vaga não seja conquistada, também afetaria a receita usada para pagar as parcelas do financiamento realizado pela Caixa.

Eleição

O momento desastroso do Corinthians no Brasileirão ameaça a imagem do diretor de futebol Duílio Monteiro Alves. Ele é o mais cotado para ser candidato da situação à sucessão de Andrés Sanchez na eleição presidencial de novembro do ano que vem.

É tradição do grupo do atual presidente dirigentes que comandam o futebol se candidatarem a presidir o clube. Títulos conquistados são essenciais para alavancar as candidaturas. Neste ano, Duílio comemorou o título paulista, mas a queda de rendimento no Brasileirão turbina críticas à sua gestão. Além disso, se o time não reagir e ficar fora da próxima Libertadores, Duílio não poderá tentar contar com o título da competição continental como imã de votos.

Oposição fortalecida

Os oitos jogos sem vitória no Brasileiro alimentam a oposição corintiana com argumentos contra a atual gestão. O dia seguinte ao vexame no Maracanã foi de movimentação de opositores em busca de estratégias para cobrar a diretora.

Um exemplo de como a crise dá argumentos para os opositores é a reação de Antônio Roque Citadini, um dos líderes da oposição, às mudanças prometidas por Andrés após o fracasso no Maracanã.

"'Mudança drástica', anuncia o Corinthians. Quem quiser acreditar, acredite. Teremos algumas mudanças: técnico, auxiliar, um ou outro jogador. Mas nada que mexa com a direção que administra o clube a partir dos interesses de 3 e meio empresários. Compram, vendem e renovam contrato".

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.