Como assim? Em pandemia empresas veem redução de lixo hospitalar infectante
ESPECIAL COVID-19
Em plena pandemia de Covid-19, empresas que tratam lixo hospitalar em São Paulo identificaram queda na quantidade de resíduos que recebem para tratamento. A diminuição gera desconfiança de que esteja havendo descarte incorreto, com material potencialmente infectante sendo dispensado como comum, o que pode provocar contaminações.
Executivo de uma das empresas que tratam resíduos de saúde no Estado afirmou ao blog que em abril vem registrando queda entre 30% e 35% na quantidade de resíduo resíduos de serviços de saúde do grupo A que recebe para tratamento. Esse é o grupo considerado com poder infectante.
Alertada por uma de suas associadas, a Abrelpe (Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) iniciou uma pesquisa com as demais companhias filiadas à ela para comprovar se a redução aconteceu de maneira geral e não só em São Paulo.
"Recebemos essa percepção (de que houve redução) de alguns associados. Então resolvemos fazer uma pesquisa ampla para ver se realmente isso está acontecendo, o que está acontecendo, se está em todo o Brasil. Ainda estou esperando alguns dados para poder chegar a uma conclusão porque a gente ainda tem restrição de afirmar algo nesse sentido. Porque às vezes pode ser algo pontual, que não acontece no Brasil inteiro. Então, hoje, só posso dizer que recebemos essa percepção de alguns associados, mas não temos um posição fechada sobre se isso está acontecendo", disse ao blog Carlos Roberto Vieira da Silva Filho, presidente da Abrelpe.
Ele afirmou que empresas que atuam em São Paulo relataram uma redução natural por conta de pequenas clínicas que fecharam durante a quarentena por não realizarem serviços de emergência, mas, o que chamou a atenção delas foi a diminuição da quantidade de resíduos potencialmente infectantes em hospitais que estão na linha de frente do combate à Covid-19. O movimento é inverso ao que se esperava, tanto que recentemente as empresas que atuam no estado conseguiram autorização para ampliar sua capacidade de tratamento desse tipo de lixo hospitalar, prevendo uma sobrecarga.
"No começo da pandemia, recebemos informações internacionais de que a quantidade de resíduo com potencial infectante sofreu aumento considerável em outros países. Isso provavelmente seria repetido no Brasil. Por isso fizemos um pleito, que resultou numa decisão da diretoria da Cetesb para que as empresas licenciadas pudessem ampliar sua capacidade para receber até 25% a mais de material com o objetivo de assegurar que esse volume adicional teria tratamento adequado e não seria jogado em outro lugar. Agora, a empresa que está lá na ponta reportando que caiu a quantidade, é algo que vai na contramão do esperado", declarou Silva Filho.
O presidente da Abrelpe afirmou que uma das linhas investigadas é uma possível falha na separação dos resíduos nos hospitais com lixo que deveria ser encaminhado para tratamento estar sendo descartado como comum, o que pode provocar contaminação ambiental e infectar profissionais que fazem a coleta. Há uma série de equipamentos de proteção usada por coletores de resíduos infectantes.
Um dado que reforça a tese de que deveria haver aumento na quantidade de lixo hospitalar a ser tratado é a frequência com que médicos precisam trocar de Epis (equipamentos de proteção individual) na linha de frente. Esses insumos precisam ser substituídos cada vez que o médico atende alguém contaminado ou com suspeita de contaminação. Nota técnica da Anvisa estabelece que esse material é potencialmente infectante e precisa ser destinado para tratamento após o descarte.
As regras sanitárias determinam que os resíduos do grupo A sejam colocados num saco vermelho ou, na falta dele, branco com símbolo indicando que é infectante e encaminhado para tratamento. Nos locais autorizados esses resíduos são incinerados ou passam por outros processos para evitar riscos de contaminação ambiental ou de pessoas diretamente.
O resíduo comum vai para a coleta da limpeza urbana normalmente em saco preto. "É um risco enorme para o coletor (se houver descarte errado). E mais, se material infectante for destinado para local sem tratamento, isso acaba ficando exposto e pode ser fonte de transmissão, não só do coronavírus, mas de outros agentes. Mesmo se for um aterro sanitário, esse material pode ser uma fonte de disseminação. Então, soou o altera e fomos atrás para ver o que está acontecendo", disse o presidente da Abrelpe.
O que diz o estado
Por meio da sua assessoria de imprensa, a Secretaria Estadual da Saúde afirmou que a coleta de resíduos hospitalares no estado segue todas as normas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Porém, o departamento de comunicação não respondeu se de fato houve queda na quantidade de resíduos com maior capacidade de contaminação durante a pandemia.
Problema antigo
O blog apurou que mesmo antes do avanço do novo coronavírus executivos de empresas especializadas no tratamento de resíduos de saúde em São Paulo reclamam de uma suposta falta de fiscalização do governo estadual no descarte de lixo hospitalar. Parte do incômodo se justifica porque é preciso pagar pelo descarte do lixo infectante e, se ele não é feito, além dos riscos de contaminação, o setor responsável pelo tratamento deixa de prestar serviços e receber remuneração. Há insatisfação com o governador João Doria (PSDB) pelo fato de representantes das empresas entenderem que ele não resolve a questão.
As queixas resultaram no ano passado num pedido de esclarecimentos feito em 26 de junho pelo deputado estadual Delegado Olim (PP) para a Secretaria da Saúde. Ele apontava suspeitas de irregularidades que envolveriam um funcionário do Centro de Vigilância Sanitária que também atua em entidade ligada aos hospitais.
Na ocasião, em resposta ao parlamentar, a secretaria afirmou que o Centro de Vigilância Sanitária não tem papel de fiscalizar, mas de orientar. E que o citado funcionário atua em uma entidade sem fins lucrativos ligada a hospitais.
Campinas
A Abrelpe já detectou um problema no descarte de lixo hospitalar em Campinas. O blog teve acesso a uma carta escrita no último dia 22 e enviada pela associação para a Secretaria de Saúde de Campinas e a prefeitura local relatando que soube por meio de noticiário que foram encontradas, em abril, aproximadamente dez toneladas de medicamentos descartadas em local inadequado no bairro Jardim Monte Alto.
No documento, a associação pede informações sobre as providências adotadas em relação à remoção e tratamento dado aos medicamentos descartados. A entidade pergunta também se foram tomadas medidas para identificar os autores do descarte irregular.
Indagado pelo blog sobre a carta, Alexandre Gonçalves, diretor do Departamento de Limpeza Urbana de Campinas, afirmou que foi acionada a Vigilância Sanitária e exigido que a empresa infratora faça a coleta dos resíduos".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.