Opinião: Bolsonaro faz papel de cartola típico. Mandetta é o técnico frito
À medida que o novo coronavírus avança no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro aumenta suas semelhanças com o estereótipo do cartola do futebol brasileiro. Consequentemente, o ministro da saúde sente na pele a pressão de um treinador em processo de fritura.
Bolsonaro aumentou a temperatura da frigideira ao dar entrevista para a rádio Jovem Pan dizendo que ele e Luiz Henrique Mandetta não se bicam e que o ministro precisa ser mais humilde.
Deu para ouvir o barulho da fritura quando o presidente disse: "a gente espera que ele dê conta do recado. Não é uma ameaça para o Mandetta. Nenhum ministro meu é 'indemissível', como os cinco que já foram embora".
Impossível não lembrar do mantra da cartolagem: "técnico vive de resultados".
A diferença é que, normalmente, quando se chega nesse estágio o treinador já tem a torcida contra ele. Mandetta está respaldado pela aprovação da maior parte da população em relação ao seu trabalho durante a pandemia, segundo pesquisa do Datafolha.
Ao insistir em discursar sobre assuntos técnicos, como quando minimizou a gravidade da pandemia, defendeu o relaxamento do isolamento social e sugeriu medicamento, Bolsonaro agiu como os cartolas que tentam interferir na escalação do time.
Deu pra lembrar de um episódio no São Paulo em 2012. Inconformado com o fado de o técnico Emerson Leão não tirar Paulo Miranda da equipe após seguidas falhas, o presidente do clube na ocasião, Juvenal Juvêncio, agiu. O cartola, que já faleceu, ordenou que o zagueiro fosse afastado da equipe por deficiência técnica quando já estava concentrado para jogo contra a Ponte Preta.
Por sua vez, o ministro adota o comportamento dos técnicos que estão sendo fritos: diz que fica no cargo enquanto o chefe quiser ou que sai quando já tiver cumprido sua missão.
Assim como treinadores, em suas entrevistas coletivas Mandetta dá alfinetadas em quem planeja derrubá-lo.
Na última sexta, por exemplo, falou que vai acontecer "o que a gente chama de fritura". Atribuiu o processo ao "pessoal da política". Afirmou que será atacado pela internet, que preços de insumos comprados pela pasta e número de mortos na pandemia serão usados como munição contra ele.
Se repetir o padrão adotado pela maioria dos cartolas, Bolsonaro vai esperar por uma combinação de fatores para afastar Mandetta, a menos que o ministro entre em sintonia com ele.
O manual da demissão de técnico diz que é preciso ter um motivo (uma goleada para um rival, por exemplo), bons substitutos disponíveis no mercado e apoio político e da torcida. Neste momento, o presidente da República parece longe de fechar a lista. Mas, não se pode garantir de Bolsonaro vá seguir essa cartilha.
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