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Opinião: cancelamento do GP Brasil é choque de realidade no país

Perrone

24/07/2020 12h36

O cancelamento do GP Brasil de Fórmula 1, agendado para novembro, é  um choque de realidade no país que parece ignorar o fato de que ainda não controlou a pandemia.

Os mais de mil registros de novos óbitos por covid-19 quase todos os dias não provocam o impacto que deveriam na sociedade. Rola um "segue o jogo" quase que geral. Não faltam candidatos a ilusionistas. Eles torturam números aqui e pegam carona numa fake news ali para sustentar que a gravidade do caso é tentativa de lavagem cerebral por parte de jornalistas comunistas inimigos de Jair Bolsonaro.

Ler sobre o cancelamento em meio a seguidas notícias de reabertura e retomadas de atividades nas mais diversas áreas pode ter o efeito positivo de fazer o Brasil refletir se está tratando o problema da maneira certa.

É como se os americanos que controlam a Fórmula 1 dessem um cutucão nos nossos governantes e falassem: "prestem atenção no que estão fazendo".

Vale lembrar que o GP dos Estados Unidos também foi cancelado. Claro, assim como aqui, a crise sanitária, de maneira geral, é enfrentada com uma série de erros. México e Canadá também foram riscados do mapa da categoria neste ano.

Seria incrível se os cartolas do nosso futebol entendessem a profundidade do recado que a Fórmula 1, indiretamente, manda para eles. Os dirigentes perceberiam como estão colocando seus funcionários em risco, por mais detalhados que sejam seus protocolos de segurança. É só notar que as contaminações de jogadores continuam ocorrendo. E ainda tem o efeito quase alucinógeno que o futebol pode causar fazendo torcedores acreditarem que está tudo bem e baixarem a guarda contra o novo coronavírus.

É constrangedor que esse chacolhão seja dado por executivos que também colocam em risco os funcionários que movimentam seu negócio.  A Fórmula 1 não deveria ter voltado em canto nenhum do mundo para priorizar a saúde dos seus.

Essa opinião é de quem, desde Jacarepaguá, se acostumou a ir ao autódromo para assistir o GP Brasil. Foram raras as ausências. Triste não poder cumprir o ritual em 2020, mas a medida é acertada.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.