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Opinião: Flamengo confunde querer pagar para ver o time com poder pagar

Perrone

05/07/2020 09h42

Na opinião deste blogueiro, os enganos do Flamengo em sua nota oficial para justificar a cobrança de R$ 10 para liberar o acesso à transmissão do jogo contra o Volta Redonda, neste domingo (5), a quem não é sócio-torcedor são tantos que demonstram pressa e falta de cuidados ao se tomar a decisão.

O principal deslize acontece no trecho em que o clube diz "para aqueles que não quiserem pagar para ver o jogo em áudio e vídeo, a FlaTV irá disponibilizar, de forma gratuita, a transmissão somente em áudio da partida".

Não acredito que exista torcedor do Flamengo que não queira pagar para ver o time jogar a semifinal do Estadual no canal do próprio clube. Ainda mais por ser um espetáculo com portōes fechados.

O que temos, certamente, são torcedores que não podem desembolsar R$ 10 para assistir à partida.

A direção rubro-negra, nesse ponto, parece ignorar os efeitos da Covid-19 na economia brasileira. O fato de, certamente, muitos flamenguistas terem perdido seus empregos durante esse período não foi levado em conta.

Curiosamente, a Globo, com quem o Flamengo está rompido, tem sido mais sensível nesse ponto. Durante a pandemia sua plataforma de streaming liberou pacote de séries e filmes gratuitamente.

Em outro ponto insensível de seu comunicado, o Flamengo diz que cobra "apenas R$ 10". Em tempos em que muita gente depende de doações de cestas básicas para sobreviver não dá pra minimizar esse valor.

No mesmo trecho,  o clube cria uma armadilha para ele mesmo ao dizer que cobra um valor "muito abaixo do normalmente cobrado no mercado de pay-per-view". Essa é a senha para o torcedor comparar o serviço prestado pela Globo e ancorado em vasta experiência com a transmissão da FlaTV, que engatinha.

É natural que a cobertura do canal flamenguista tenha imperfeições neste momento. Assim, comparações com quem já está estabelecido no mercado tendem a ser desfavoráveis para o rubro-negro.

Numa fase praticamente experimental, faria mais sentido não cobrar pela transmissão e seguir estimulando contribuições voluntárias, como no jogo anterior.

As doações geram um valor muito pequeno se comparado com a quantia que a Globo costuma pagar. Mas a decisão de não assinar com a emissora para a transmissão do Carioca foi do Flamengo. Era de se esperar que a diretoria tivesse um plano mais sólido do que querer rapidamente tornar sua plataforma de streaming imediatamente um negócio altamente lucrativo.

Todo empreendedor sabe que um novo projeto leva tempo para dar frutos. É preciso paciência, planejamento, persistência e caixa para fazer a ideia vingar.

A leitura que faço é de que o Flamengo não teve nenhum dos três primeiros requisitos.

Em relação ao quarto (caixa), a situação é mais incompreensível. O balanço do rubro-negro relativo a 2019 sugere que o clube tem gordura financeira e crédito para enfrentar pandemia e falta de contrato de transmissão no Carioca sem precisar tomar medidas apressadas

Agora, se o clube com situação financeira mais confortável do país está tão aflito, imagine o torcedor rubro-negro que estiver desempregado. Ele pode pagar R$ 10 pra ver seu time jogar?

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.