Disputa por realização de Palmeiras x Fla reflete atraso do futebol do país
Guerra de liminares, cartolas dando tapas na mesa e bairrismo exacerbado. Os efeitos da pandemia de covid-19 reforçam que danosas práticas do passado seguem vivas no futebol brasileiro. A embolorada forma de gerir a modalidade no país corrói a fina camada de verniz de profissionalismo pincelada pelos cartolas.
A disputa nos tribunais em torno da realização ou não de Palmeiras x Flamengo, neste domingo (27), simboliza o estado medieval de nosso futebol. O imbróglio é digno de Eurico Miranda, Caixa D'Água, Farah, Nabi e tantos outros nomes, apelidos e sobrenomes que protagonizaram disputas nas quais a demonstração por poder era o que valia.
No caso atual, as tintas do bairrismo estão impressas na disputa entre Palmeiras e Flamengo. O que deveria ser visto sob a ótica da saúde dos jogadores virou questão esportiva e clubística.
A pauta deveria ser o risco de novas contaminações devido ao surto de covid-19. Mas a coisa descambou para a rivalidade ente Palmeiras e Flamengo e o confronto direto entre a cúpula paulista da CBF e o time carioca.
No fim de semana de mais uma rodada do Brasileirão, jornalistas se importaram mais com advogados e magistrados do que com jogadores e treinadores. Uma repetição da fórmula que teima em desvalorizar nosso futebol.
Sentimos o cheiro de mofo também quando a primeira reunião para debater a volta do público nos estádios precisou ser encerrada por causa de uma discussão entre o paulista Rogério Caboclo, presidente da CBF, e Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro.
As câmeras dos computadores que permitiram a moderna videoconferência registraram o velho bairrismo, tão comum nos anos 1980. A diferença é que agora a CBF está nas mãos dos paulistas. Vale lembrar que, em tese, a Ferj defendia exclusivamente o Flamengo, principal interessado no retorno do público já em outubro.
A sensação de que o grande duelo do futebol nacional é travado entre Confederação Brasileira e Flamengo foi reforçada no último sábado com a decisão do rubro-negro de não participar da reunião na qual os outros 19 clubes da Série A do Brasileiro se manifestaram contra o retorno dos torcedores agora.
O rubro-negro se apoia na decisão de prefeitura e governo do Rio de permitir a presença da torcida em sua partida contra o Athletico, no próximo dia 4. Ou seja, não saímos ainda do tempo de que ter alianças com políticos faz parte do jeito de administrar o futebol brasileiro.
Enquanto vemos cartolas darem de ombros para jogadores e demais funcionários infectados pelo novo coronavírus, admiramos o sucesso da bolha montada pela NBA para existir durante a pandemia.
É como se o basquete norte-americano fizesse parte da animação de temática futurista "Os Jetsons", e o nosso futebol estivesse no roteiro de " Os Flintstones".
Nossa defasagem em relação ao esporte bem gerido de outros países só fará aumentar a cada ano a quantidade de meninas e meninos que vemos com camisas de clubes europeus.
E não são só as crianças que se afastam de nossos times. Cada vez mais mulheres e homens de negócios empregados em grandes empresas preferem evitar patrocinar os times brasileiros. Claro, quem vai querer colocar seu nome numa página amarelada e que já deveria ter sido arrancada faz tempo?
Porém, em vez de olharem para o que acontece ao redor, muitos dos dirigentes brasileiros preferem dar atenção a seus próprios umbigos. Não importa se existe uma pandemia.
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