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Ex-presidente do Palmeiras rompe com atual diretoria, mas blinda Felipão

Perrone

03/07/2011 13h38

Mustafá Contursi foi o principal articulador da vitória de Arnaldo Tirone. Porém, com menos de seis meses de gestão do atual presidente do Palmeiras, o ex-dirigente resolveu retirar o seu apoio. Enxerga uma continuidade de procedimentos comuns na criticada administração de Luiz Gonzaga Belluzzo.

Com o novo movimento no tabuleiro verde, o ex-presidente passa de mentor a crítico implacável. Seu primeiro lance foi entregar ao COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) 14 pedidos de explicação para a diretoria.

O bombardeio tem poder de fogo suficiente para minar o time palmeirense, que atravessa bom momento. Roberto Frizzo, vice de futebol, é um dos alvos nessa batalha. Mas Mustafá toma o cuidado de rasgar elogios a Felipão enquanto castiga a diretoria. Assim, ele blinda a equipe e a si mesmo. Mexer com o treinador só aumentaria a sua rejeição por parte da torcida.

Leia a seguir as principais declarações de Mustafá ao blog. Na minha opinião, além de irritado com os altos gastos, ele não engole o fato de serem mantidos no clube funcionários que o criticaram no passado. E se irrita por Tirone e Frizzo não lhe darem ouvidos.

Rompimento

"Nada foi feito na direção prometida. Deveríamos adotar uma política de austeridade. Não houve redução de despesas. Só nas primeiras 24 horas com a saída de alguns funcionários. A Academia ([CT] continua com toda a entourage da administração anterior. Tem fotógrafo, cinegrafista acompanhando o time… Pagamos R$ 27 mil mais os custos de impressão para a assessoria de imprensa fazer uma revista. Falaram que iriam cortar essa despesa. Não cortaram. Não é questão de eu gostar ou não de quem faz. Mas R$ 27 mil para produzir o conteúdo de uma revista de clube é muito dinheiro.

Os gastos continuam enormes. Se não concordei com a gestão anterior por causa disso, não posso concordar com essa, que comete os mesmos abusos. Não vai mudar nada, por isso mudei. Aliás, eles mudaram, eu me mantive fiel aos princípios."

Finanças

"Tínhamos dois anos para sanear as finanças com uma política de austeridade. Não estamos fazendo isso. Era para cortar os gastos no primeiro ano e ter mais fôlego no segundo. O próprio presidente disse que cortaria a gordura, a carne e chegaria até o osso para sanear as finanças. Ele não cortou nem a pele. Eles pegaram R$ 15,4 milhões da Globo para cobrir caixa, como a outra diretoria fazia, não mudou nada [o clube alega que esse valor se refere a parte das luvas pagas pela emissora]. Se estava funcionando do jeito anterior, não precisávamos ter entrado.

Os cortes foram mínimos. A situação lembra os festins de Maria Antonieta. Ela foi aconselhada a dar pão para acalmar o povo. Nós não temos pão para dar, estamos dando uns brioches."

De quem é a culpa?

Eles afirmam que todo o déficit de janeiro não é dessa administração, pois assumiram depois dos dez primeiros dias do mês. Acontece que nos dez dias iniciais do ano houve mais cortes de gastos do que no resto do mês. Eles não agiram como deveriam. Ficam dizendo que a culpa é da diretoria anterior, que comprometeu 70% das receitas. Então, vamos ficar o tempo inteiro culpando os outros e não vamos fazer nada?"

Bom e caro

Apesar do custo, o que está funcionando é a comissão técnica. Especialmente o Felipão. Ele é melhor do que a equipe, ele que dá esse equilíbrio ao time. Além disso, trabalha com uma comissão técnica pequena."

Kléber

"Se o Flamengo quer o jogador, é só depositar o valor da multa e levá-lo. Se não depositar, o Kléber tem um contrato para cumprir, pronto. Não há motivo para ter aumento."

Falta de diálogo e de hierarquia

"Dei vários alertas sobre o que era preciso fazer. Não me ouviram. Talvez existisse mais diálogo com a outra diretoria, do que com os que estão aí. Antes, a gente debatia. Agora, eles adotaram uma postura de rei [Tirone) e vice-rei [Frizzo]. Não ouvem ninguém. Antes, exisitia uma hierarquia, a diretoria se reunia a cada 15 dias e tomava decisões. Agora só os dois decidem tudo. E, em vez de apoiar aqueles que estão defendendo o clube, eles criam um clima de perseguição"

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.