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'Não entendo de negociatas', diz diretor afastado do Corinthians

Perrone

12/10/2010 20h16

Ao mesmo tempo em que tenta encontrar um novo técnico para o Corinthians, Andrés Sanchez tem de lidar com uma crise em seu departamento de futebol amador. Miguel Marques e Silva, diretor afastado do futebol amador, falou ao blog das pressões que sofria e de interesses de conselheiros e diretores em jogadores. Confira.

O presidente Andrés Sanchez explicou a sua saída?

Fui falar com o Andrés sobre o real motivo, ele disse que precisava fazer mudanças. Mas não entendo. De seis times nossos, quatro estão em primeiro lugar. Dois estão em segundo, um por diferença de dois pontos, outro por diferença de um. Vários jogadores nossos têm subido, como Boquita, William, Rafael Santos … Então, o departamento estava indo bem. Futebol eu conheço desde o primário. O que  não conheço e procuro não conhecer é sobre negociatas. Talvez seja este o motivo.

Pode ser mais claro?

É muita a pressão no departamento amador, pressão de algumas pessoas interessadas em jogadores, empresários e até gente muito ligada ao Corinthians, diretor ou conselheiro com esse tipo de interesse. Talvez eu tenha sido afastado por pressões deste tipo.

Empresários e conselheiros assediam os jogadores no CT?

Há dois anos foi baixada uma portaria que não permite a entrada de empresário lá. Às vezes a gente fica sabendo que um ou outro empresário ligado à gente do clube consegue entrar lá.

O senhor sabe quem pediu a sua saída?

 Soube que o Andrés sofreu pressão dos Corintianos Obsessivos [grupo de sócios ligados ao presidente] e ouvi que o Mané da Carne [Manoel Evangelista, assessor do presidente] também pressionou.  O movimento Fora Dualib [grupo de sócios que tem membros da Gaviões] também teria pressionado, mas falei com um deles, e ele negou.

O que o senhor viu lá que não poderia aceitar?

É pressão de todo lado. Jogador que não joga fala que é o técnico que tá pegando dinheiro. Não é verdade. Eu conheço as pessoas que estão lá dentro, são honestas. O problema não é lá dentro, o problema é fora. Então não é tirando o diretor que você resolve isso.

O problema é fora como?

Empresários, diretor, conselheiro que tem algum interesse.

Como é a pressão de conselheiro? Pede para trocar o técnico porque não põe o jogador dele para jogar?

Isso não falam para mim porque não têm coragem. Duas pessoas, dois sócios do clube que não me conheciam direito nesses três anos chegaram com uma conversa deste tipo: "vamos ganhar dinheiro". Falei, você não me conhece, se falar de novo vou ser obrigado a te prender em flagrante. O que a gente recebe é reclamação de diretor e conselheiro que o técnico não põe o filho para jogar. Isso acontece em todos os clubes. Não tem nada a ver com a desonestidade que às vezes campeia lá no local, de fora para dentro.

E tem muito conselheiro ligado a empresário?

Não sei,  já ouvi falar de um ou dois que você deve saber quem são. Agora, esquisito, tem o técnico Vitor Hugo, ótimo treinador. Alguns jogadores que ele achava que não serviam foram dispensados. E começou uma pressão muito grande em cima dele. Até de um comentarista conhecido da televisão porque um jogador desse comentarista tinha sido dispensado, jogador também de um conselheiro.

Era jogador do comentarista e do conselheiro?

Dizem que era jogador indicado pelo comentarista. Quando vi a pressão toda feita pelo comentarista, falando mal do treinador em seus comentários, fui procurar saber e me disseram que o técnico afastou um jogador indicado por ele. E também teria dispensado o jogador de um conselheiro. Não gostaria de falar o nome do conselheiro e nem do comentarista. Tem conselheiro que entra lá no departamento com pai de jogador, não é bom. Falei para o Andrés que quem atrapalha são os próprios amigos nossos.

O senhor flagrou alguém fazendo algo de errado lá?

Não, eles sabem que sou juiz de direito, não vão fazer lá dentro, fazem em outro lugar. Mas tem muita gente que frequenta lá e não deveria. Já tive de tirar de uma área conselheiro, empresário, que estavam em lugar que não podiam. Tem também um pastor que sempre está por lá.

Pelo jeito, o senhor se queixou ao Andrés?

Falei com ele. Disse para mim que tomaria atitudes. Não sei se tomou. Falei que era melhor eu ficar até dezembro. E depois ele mexer no departamento. No meu trabalho, enfrentei Fernandinho Beira-Mar, fazia reunião com preso encapuzado em rebelião em presídio, não teria medo da pressão desses adolescentes que acham que o Corinthians começou a existir depois deles.

A última pergunta: virou rotina os clubes venderem porcentagem dos direitos de garotos da base para empresas. Isso acontece muito no Corinthians também?

Não sei se todos os negócios passaram por mim, mas vendemos porcentagens sim, para essas empresas que negociam com todos os clubes, Sonda, BMG, esses grupos. Isso é normal.

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.


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