Os exageros do diretor da Globo
Perrone
10/05/2011 07h00
O discurso adotado pelo diretor-geral da Globo, Octavio Florisbal, em entrevista a Mauricio Stycer tem alguns buracos. Ele diz que a emissora abandonou a concorrência por causa de 'maldades' ou cláusulas contratuais que contrariavam a empresa. Mas em outubro do ano passado, antes de as regras serem definidas, a Globo começava a conversar informalmente com os clubes sobre assinar individualmente com eles.
Já era um reflexo da ação de Andrés Sanchez para vingar a derrota da CBF na eleição do C13. Desde o início, a emissora tinha a segurança de que na pior das hipóteses poderia transmitir os jogos das equipes que fechassem diretamente com ela. Ou seja, Florisbal exagera ao dizer que preferiu correr o risco de ficar sem as partidas do Brasileiro a participar da concorrência.
Chamar interesses comerciais do C13 de maldades foi outro exagero. Como também foi dizer que a diferença de bilheteria é pequena entre os jogos às 16h e às 22h. Não foi assim no Campeonato Paulista.
Como exemplo, três jogos do São Paulo, todos no Morumbi. Contra o São Bernardo, às 22h, foram vendidos 6.398 ingressos, cerca de 2.000 a menos do que na partida com o Ituano, no mesmo horário. São Paulo x Santo André, às 16h, teve 16.840 pagantes.
As críticas sobre o Clube dos 13 valorizar demais o pay-per-view também parecem um pouco acima do tom. Afinal, a Globo trabalha com esse sistema e tiraria proveito, ao contrário da Record, que não possui canal fechado.
Por fim, é difícil acreditar que quem participou ativamente do processo de implosão do Clube dos 13 vá agora adotar a postura de mero observador em relação ao futuro da entidade e a possível criação de uma Liga. Essa imparcialidade pregada por Florisbal não bate com o que se ouve dos cartolas. Eles falam na participação da Globo nos próximos capítulos dessa novela.
Sobre o Autor
Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.
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Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.