Um ano após morte de Herzog, Marin pediu fim de injustiça contra delegado da ditadura
Perrone
17/03/2013 10h04
Ao mesmo tempo em que é tratado com honrarias na Assembleia Legislativa de São Paulo, José Maria Marin é alvo de uma campanha na casa para colocar seu nome na versão estadual da Comissão da Verdade. O grupo investiga o desaparecimento de mais de 150 pessoas no Estado durante a ditadura militar.
Por iniciativa do deputado Campos Machado, do PTB, o presidente da CBF e do COL foi recebido reverências na Assembleia, na última quinta. Ao mesmo tempo, havia deputado revirando os baús do regime militar para tentar convencer a Comissão da Verdade a investigar a ligação de Marin com a Ditadura.
Um dos papéis que servem como trunfo dessa ala, é um discurso feito pelo então deputado José Maria Marin em 7 de outubro de 1976, pouco antes de a morte do jornalista Vladimir Herzog completar um ano.
Em seu pronunciamento, Marin clama por Justiça. Mas não para Herzog. Diz que o injustiçado é o delegado Sérgio Paranhos Fleury, considerado um dos maiores torturadores do período ditatorial.
Marin fez a homenagem a partir da atuação do delegado na solução de um crime no Mato Grosso.
O argumento para levar o cartola à comissão é que em seu pronunciamento Marin aparenta intimidade com Fleury e que essa relação deve ser esmiuçada. Isso por causa da polêmica fala de José Maria às vésperas da prisão de Herzog. Na ocasião, ele se pronunciou contra a TV Cultura, emissora em que trabalhava o jornalista, e pedia providências para que a tranquilidade voltasse aos lares paulistanos. Dezesseis dias depois, Herzog morreu na prisão.
O cartola alega ser alvo de uma campanha criminosa.
A seguir, trechos do discurso de Marin no dia 7 de outubro de 1976, com homenagens a Fleury.
"… um homem [Fleury] que, de há muito, vem prestando relevantes serviços à coletividade, embora nem sempre tenha sido feita justiça ao seu trabalho."
"E nós que conhecemos de perto sua personalidade, não só como exemplar chefe de família, como homem cumpridor de seus deveres e, acima de tudo, com uma vocação das mais raras, das mais elogiáveis, que é o cumprimento de seu dever como polícia, nos sentimos na obrigação de… fazer Justiça ao delegado Fleury e à sua valorosa equipe."
"…muitas vezes não chegamos a compreender, a entender, porque um homem desse quilate, um homem que vem dedicando sua vida inteiramente ao combate ao crime, um homem que por várias vezes colocou em risco não só sua própria vida, mas a vida de seus familiares, não tenha até hoje merecido à devida compreensão…"
"[Fleury] Não só honra a polícia de São Paulo, como de há muito é motivo de orgulho para, inclusive, a população de São Paulo".
"… se outras pessoas, outros brasileiros que residem fora de São Paulo reconhecem esse trabalho que Sérgio Fleury vem desenvolvendo em favor do interesse público, em favor da tranquilidade e da segurança da população de São Paulo, por que nós paulistas não devemos também reconhecer e fazer justiça a esse trabalho?"
"… queremos trazer aqui os nossos cumprimentos e dizer do nosso orgulho em contar na polícia de São Paulo com os trabalhos do delegado Sergio Paranhos Fleury."
Abaixo, a íntegra do discurso, publicado no Diário Oficial em 1976..
Sobre o Autor
Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.
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