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Para dirigentes corintianos, ficou mais difícil ainda pagar estádio

Perrone

11/03/2014 06h00

Perto de virar realidade, o sonho da casa própria corintiana tem tirado o sono de parte dos dirigentes e conselheiros do clube. Com custos maiores do que os previstos, alteração no modo de quitação, aumento na área de ingressos populares e demora na captação de receitas, há o temor de que o Corinthians sofra mais do que o esperado para pagar a obra. E, como consequência, amargue cerca de 20 anos com dificuldades para montar times fortes.

O cenário sombrio foi descrito ao blog por três dirigentes alvinegros que preferem ficar no anonimato. O clube calcula que irá gastar pelo menos R$ 1 bilhão para pagar o estádio, outrora orçado em R$ 820 milhões. Boa parte do aumento se deve a juros bancários causados por empréstimos feitos por causa da demora no financiamento do BNDES.

Ninguém no Parque São Jorge duvida de que a arena irá gerar receitas robustas, mas isso não significa um caminho fácil até a dívida ser quitada. Uma das principais preocupações está relacionada a uma mudança na forma de pagamento da obra.


O clube aceitou pagar prestações maiores do que planejado inicialmente para diminuir os riscos da Caixa, que é tomadora do empréstimo de R$ 420 milhões do BNDES usados para cobrir parte das despesas. Assim, sobrará menos dinheiro por mês nos cofres do Corinthians, o que significa fôlego reduzido para contratações. Existe receio de que o clube leve duas ou três décadas para quitar o débito sem poder investir em grandes craques. Além disso, as categorias de base têm sido pouco aproveitadas atualmente.

O aperto financeiro aumenta com o projeto de ampliar o número de ingressos que a direção chama de populares na nova arena. O plano é de Andrés Sanchez, responsável pelo estádio. Inicialmente, os bilhetes mais baratos seriam vendidos apenas para atrás dos gols, locais sem assentos, ao gosto das torcidas organizadas. Porém, agora o setor Leste também terá ingressos na faixa mais baixa de preço. Nas palavras de um dos dirigentes ouvidos pelo blog, o setor Leste teria tíquetes para membros da classe B, mas agora terá para torcedores das classes C e D. Há na diretoria quem acredite numa queda de receita entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões anuais com a ampliação dos tíquetes mais baratos. Desde o começo está previsto que o estádio terá cerca de um terço de seus lugares destinados para a classe A.

A bola de neve fica maior com a demora na venda de propriedades da arena. O plano de negócios elaborado por Luis Paulo Rosenberg, vice-presidente do clube e que se afastou dos trabalhos no estádio, previa o início da venda de camarotes em fevereiro de 2013. Mas até agora a comercialização não começou. Isso faz com que a arena demore mais para gerar receitas.


Outra negociação que o clube custa a concretizar é a venda dos naming rights. Em fevereiro de 2012, Sanchez disse que estava perto de concluir a comercialização do nome da arena, mas até agora isso não aconteceu.

No pacote de preocupações também estão questões referentes à Copa do Mundo. Entre elas, os custos com as estruturas complementares do estádio. Segundo o Blog do Rodrigo Mattos, Sanchez admitiu recentemente que elas são de responsabilidade do clube. Essas estruturas provisórias são necessárias para os jogos do Mundial, como locais ampliados para a imprensa, mas considerados exagerados para as necessidades da arena após a Copa. No Governo do Estado, a estimativa é de que as obras complementares custem entre R$ 70 e R$ 84 milhões. Também segundo o Blog do Rodrigo Mattos, no entanto, a conta ficará entre R$ 50 e R$ 60 milhões.

Houve resistência do Corinthians para pagar essa despesa, e o clube ainda procura patrocinadores para a empreitada. Indagada pelo blog se o Corinthians já havia feito as contratações relativas às estruturas complementares, a assessoria do COL (Comitê Organizador Local) disse que ainda não tem informações sobre os prazos referentes à execução dessas obras.

"As estruturas complementares estão planejadas em todas as sedes e os processos de contratação em andamento, porém, em São Paulo, o cronograma ainda não foi confirmado. Permanecemos trabalhando de forma integrada com as sedes para garantir contratação e montagem das estruturas entre abril e junho de maneira gradativa", afirmou a assessoria do COL.

Tanto no clube como no Comitê Paulista da Copa há o temor de atrasos nos trabalhos de acabamento da arena. Entre os dirigentes, o receio não é nem de que o estádio não fique pronto no prazo combinado com a Fifa, 15 de abril. O medo é de que acabamentos luxuosos ganhem formas mais simples para acelerar os trabalhos.

O blog perguntou à assessoria de imprensa da Odebrecht se havia atrasos nos trabalhos de acabamento, mas a resposta foi de que a empresa não comentaria o assunto. Por sua vez, o COL respondeu que em seu entendimento o cronograma de obras do estádio segue o estabelecido após a queda de uma parte da cobertura da arena.

De acordo com a assessoria de imprensa do COL, "no dia 24 de março, haverá uma visita dos especialistas de estádios da FIFA e do COL em que será conferido o andamento do cronograma em relação à finalização da cobertura, acabamento, entorno imediato, arquibancadas provisórias e instalações complementares, a fim de alinhar as expectativas do término dos trabalhos".

Andrés Sanchez não fala com o blog. E o diretor de finanças do Corinthians, Raul Correa da Silva, não atendeu ao celular.

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.


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